terça-feira, 18 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO DOS SENTIMENTOS



A palavra educação vem do latim educare ou educere. Provérbio: e, verbo ducare, ducere. Significa ato de
educar;  conjunto  de  normas  pedagógicas  aplicadas  ao  desenvolvimento  geral  do  corpo  e  do  espírito.
Promover educação; transmitir conhecimentos; ensejar condições para o educando modificar para melhor.
Hippolite Leon Denizard Rivail, eminente pedagogo francês (1857) nos esclarece que:
“A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de
manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo
modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda
observação”.
Ainda somos os grandes desconhecidos de nós próprios. Os nossos sentimentos, emoções, pensamentos,
atrações, repulsas, simpatias e antipatias manifestam-se ainda de forma incompreensível e sem controle,
dificultando as nossas relações intra e interpessoais. Os erros alheios são visíveis aos nossos olhos, contudo,
e os nossos defeitos e tendências negativas, são devidamente observadas por nós?
Sentimentos são estados afetivos produzidos por diversos fenômenos da vida intelectual ou moral. Podem
resultar de percepções sensoriais ou representações mentais. Como nos explica Jolivet (1964) emoção é um
fenômeno afetivo complexo, provocado por um choque brusco e compreendendo um abalo mais ou menos
profundo  na consciência.  C.Lahr  (1964) também  explica  que emoção é  o estado  afetivo  intenso  muito
complexo proveniente da reação ao mesmo tempo mental e orgânico do indivíduo todo, sob a influência de
certas excitações internas ou externas, pois, nisto se vê a diferença existente com o termo sentimento.
Enquanto nos comprazemos nas paixões, reincidindo nos erros, numa atitude desatenta quanto aos aspectos
que  necessitam  ser  modificados  ou  burlados  na  nossa  intimidade,  enfrentaremos  angustias  e  conflitos
existenciais. As oportunidades do aprendizado na convivência com o próximo e consigo mesmo não devem
ser desperdiçadas.
O conhece-te a ti mesmo, conforme nos ensinou um sábio da antiguidade (Sócrates), será o meio mais
prático de transformação interior.
Quando  por  livre  e  espontânea  vontade,  não  nos  dispomos  a  enveredar  neste  processo  de  autoconhecimento, buscando identificar o porquê das nossas reações aos fatores externos no relacionamento
social, somos impulsionados pelos entre-choques sociais com aqueles do nosso convívio (família, trabalho,
transportes coletivos, locais públicos) a nos conhecer. Aprendemos muito na convivência social, através de
nossas reações com o meio e as manifestações que o meio nos provoca, atingindo-nos emocionalmente. No
convívio com o próximo, aprendemos a identificar nossas reações de comportamento e a discipliná-las. O
conhecer-se é o próprio processo de auto-conscientização do reconhecimento de nossas limitações e da
mobilização de esforços em superá-las.
A regra universal de conduta nas ações já nos foi dita “Fazer ao próximo o que gostaríamos que o próximo
nos fizesse”. Os nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações refletem as crenças, valores, visão de
mundo internalizadas através da educação.
A  educação  dos  sentimentos  que  geram  estados  de  sofrimentos  possibilitará  alcançar  uma  maior
compreensão quanto às suas origens, causas e consequências. Relacionaremos a seguir (Ney Prieto Peres),
alguns sentimentos de conotação perturbadora e como eles se manifestam no nosso cotidiano:
1Orgulho
“O orgulho vos induz a julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e
a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social,
quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. e o que acontece, então?
entregai-vos á cólera”.
Principais reações e características do tipo predominantemente orgulhoso:
- Amor próprio muito acentuado: contraria-se por pequenos motivos;
- reage explosivamente a quaisquer observações ou críticas de outrem em  relação ao  seu comportamento;
- necessita ser o centro de atenções, fazer e prevalecer sempre as suas próprias idéias;
- não aceita a possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado ao diálogo
construtivo;
- menospreza as idéias do próximo;
- ao ser elogiado por quaisquer motivos, enche-se de uma satisfação presunçosa, como que se reafirmando
na sua importância pessoal;
- preocupa-se muito com a sua aparência exterior, seus gestos são estudados, dá demasiada importância à
sua posição social e ao prestígio pessoal;
- acha que todos os seus circundantes (familiares e amigos) devem girar em torno de si;
não  admite  e  humilhar  diante  de  ninguém,  achando  essa  atitude  um  traço  de  fraqueza  e  falta  de
personalidade;
- usa da ironia e do deboche para com o próximo nas ocasiões de contenda.
Vaidade
A vaidade é decorrente do orgulho, e dela anda próxima. A vaidade, nas suas formas de apresentação, quer
pela postura física, gestos estudados, retórica no falar, atitudes intempestivas, reações arrogantes:
Principais reações e características do tipo predominantemente vaidoso:
- Apresentação pessoal exuberante (no vestir, nos gestos afetados, no falar demasiado;
-evidência de qualidades intelectuais, não poupando referências à própria pessoa, ou a algo que realiza;
- esforço em realçar dotes físicos, culturais ou sociais com notória antipatia provocada aos demais;
- intolerância para com aqueles cuja condição social ou intelectual é mais humilde, não evitando a eles
referências desairosas;
- aspiração a cargos ou posições de destaque que acentuem as referências respeitosas ou elogiosas à sua
pessoa;
- não reconhecimento de sua própria culpabilidade nas situações de descontentamento diante de infortúnios
por que passa;
-  obstrução  mental  na  capacidade  de  se  auto-analisar,  não  aceitando  suas  possíveis  falhas  ou  erros,
culpando geralmente a sorte, a infelicidade imerecida, o azar.
2Inveja
A inveja reflete a fragilidade em que vivemos, deixando-nos consumir em desejos inconsistentes e ilusórios.
Principais reações e características do tipo predominantemente invejoso:
- Não aceitação da condição relativamente superior de alguém, ou de uma situação de vida de outrem
melhor que a sua, leva à incornformação, ao ódio, procurando ferir e destruir o objeto da inveja;
- desejo manifestado dentro de nós de possuir algo que vemos em alguém ou na propriedade de alguém;
- crítica a alguém que pouco faz e muito possui, comparando sua posição com os sacrifícios que a vida nos
apresenta;
- estados de depressão, causando tristeza, sofrimento, inconformidação e revolta com a própria sorte;
-  sentimento  penetrante  e  corrosivo  que  emitimos  quando  assim  olhamos  para  alguém,  nos  deixando
entregues a ódios infundados, por deterem o que ambicionamos;
- sentimento destruidor da resignação, da tolerância e da resignação;
- resultado do apego aos valores transitórios: posição social, objetos de uso pessoal, bens materiais, recursos
financeiros.
Ciúme
O ciúme anda próximo da inveja. ambos são expressões da cobiça, e se manifestam no nosso desejo de
posse ou na nossa condição possessiva, ambiciosa, egoísta. Quando o ciúme se refere às pessoas do nosso
relacionamento, é indício da paixão, do amor ainda condicionante, dominante, restritivo, exclusivista. O ciúme
impõe condições. é assim que quase sempre se origina a inconformação, o desespero, o desentendimento.
Avareza
A avareza diz respeito igualmente ao apego específico ao dinheiro e aos objetos materiais que possuímos. O
homem  avaro  é  o  egoísta  que  nega  o  auxílio  pecuniário  a  quem  lhe  bate  à  porta,  desprezando  as
oportunidades  de  servir  e  até mesmo  de ouvir quem lhe  venha  pedir socorro.  O avaro centraliza sua
preocupação na aquisição do dinheiro ou nas diversas formas de enriquecimento. Para ele, o objetivo
principal da existência é o dinheiro e que ele lhe proporciona para usufruto. O zelo demasiado quando
relutamos em emprestar algumas das nossas quinquilharias, com receio de perdê-las ou desgastá-las, é uma
forma de avareza, como também um aspecto de ciúme. A mania de guardar por tempo indeterminado, até
mesmo sem usar jóias, roupas ou outros pertences pessoais, reagindo em dar a alguém que mais necessite.
Ódio
O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito
em evolução dos resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de amor-próprio. O ódio se
manifesta desde os aspectos mais sutis, dissimulado na hipocrisia social e nas formas de antipatias, aos atos
mais cruéis e brutais de violência. O ódio se apresenta como um sentimento, uma emoção incontida, um
impulso que, ao nos dominar, expressamos através de palavras ofensivas, quando contraímos o coração,
cerramos os maxilares, fechamos os punhos e soltamos faíscas vibratórias de baixo padrão, sintonizados
com as entidades malévolas, que assim podem nos envolver, instigando-nos até ao crime. Os ódios são
despertados pelas humilhações sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no afeto, na confiança
3ou quando ofendidos. Junto ao ódio encontramos o rancor, que é a permanência dele, nas promessas feitas a
nós mesmos de revide. a vingança é sua decorrência.
Personalismo
O egoísmo se funda na importância da personalidade.
Principais reações e características do tipo predominantemente personalista:
- Suas opiniões ou pontos de vista são sempre os certos e os que devem prevalecer aos dos demais;
- as experiências próprias são aquelas que servem de referência a resultados que se discutem com outros,
desconsiderando em igual importância as experiências do próximo;
- na condição de subalterno, nega-se à colaboração de um plano ou projeto quando sua idéia ou parecer não
e aceito numa escolha em grupo;
- melindra-se na sua auto-importância quando não convidado a participar com destaque nas decisões
relativas a empreendimentos do círculo que frequenta, muitas vezes até afastando-se ou ameaçando afastarse de suas funções;
- sente-se valorizado quando nas funções de comando e dificilmente aceita ser conduzido pela direção de
outrem;
- aborrece-se facilmente quando contrariado nos seus desejos ou idéias;
- num trabalho para obtenção de um resultado comum, acha ou agem como se pudesse dispensar a
cooperação dos demais integrantes;
- teimosia e birra, revivendo questões ultrapassadas e contendas já superadas, onde sua opinião não foi
seguida.
Intolerância
- O intolerante não perdoa, nem mesmo atenua as falhas humanas e, por isso, falta-lhe a moderação nas
apreciações para com o próximo;  vê apenas o lado errado das pessoas, o que em nada estimula o bem
proceder; é a qualidade do indivíduo intransigente.
Principais reações e características do tipo predominantemente intolerante:
- Austeridade para com o comportamento ou para com as obrigações dos outros, nas situações familiares,
profissionais ou sociais de um modo geral;
- severidade exagerada quando nas funções de mando, perdendo quase sempre o controle emocional e
repreendendo violentamente algum subalterno que tenha cometido certo erro em suas obrigações de serviço;
- rigidez nas determinações ou nas posições tomadas em relação a alguma penalidade aplicada a alguém
que tenha errado e sobre quem exerça autoridade;
- rispidez e maus-tratos para com aqueles com quem convive, agindo com dureza e radicalidade;
- não-aceitação e incompreensão das infrações que alguém possa cometer, condenando-as inapelavelmente
com julgamentos agressivos e depreciativos;
-prazer em denegrir as pessoas, evidenciando, de preferência, seus defeitos.
4Impaciência
O indivíduo impaciente é tipicamente nervoso, apressado.
Principais reações e características do tipo predominantemente impaciente:
-Inconformação: não-aceitação do desejo que não realizou;
- precipitação: não faz por esperar a ocasião precisa;
- inquietação : não se acalma quando tem que aguardar;
- agitação: desespero pelas frustrações sofridas;
- sofreguidão: angústia, ansiedade por algo que tanto quer;
- impertinência: teimosia, insistência intranquila;
- irritação: contrariedade por algum não conseguido;
- aborrecimento: não-realização daquilo que queria.
A compreensão do significado desses sentimentos, identificando como eles se manifestam no nosso ser,
torna-se um passo imprescindível para a mudança comportamental e consequente melhoria das nossas
relações intra e interpessoais.
Dentre  as  competências  necessárias  ao  Ouvidor,  as  habilidades  humanas  são  fundamentais  para  o
desempenho de suas funções. Compreenda-se por habilidades humanas a capacidade de se comunicar, de
compreender o comportamento humano e desenvolver uma liderança eficaz.
Sendo a Ouvidoria um canal de comunicação direta entre o cidadão e o Poder Público, relacionaremos a
seguir, alguns atributos profissionais que caracterizam o perfil de um Ouvidor:
. Ser imparcial;
. adotar uma postura mais pedagógica e propositiva do que contestatória, apresentando ao cidadão os seus
direitos e deveres;
. ter poder de negociação, para administrar conflitos;
. ter representatividade, tanto interna quanto externa;
. ter boa comunicação e relacionamento interpessoal;
. possuir, sobretudo, bom senso.
Comunicação, segundo Luiz Iasbeck, “é compartilhar sentimentos, temores, humores, angústias e surpresas,
é estar junto, pertencer, vincular, estar afetado e em afeto com quem nos cerca”.
Na comunicação verbal, devemos evitar:
. Pronunciar mal as palavras;
. falar muito baixo ou muito alto;
. falar muito depressa ou muito devagar;
. respirar mal;
. usar a comunicação como forma de poder;
. esquecer o valor da empatia;
. ser irônico e sarcástico;
. ter gestos, atos e palavras incoerente;
. ser inflexível;
. falar do que não conhece;
. expressar-se sem objetividade e clareza;
. não aliar a técnica à naturalidade na comunicação;
5. gestos que conotem nervosismo e inibição, etc.
No cotidiano do Ouvidor, ele lida com situações de angústias e conflitos, exercitando-se na arte de ouvir as
pessoas e sobretudo, na condição de vivenciar a empatia. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar da
outra pessoa, de entender o seu estado de espírito.
Ouvir significa ter paciência e tolerância para aceitar a outra pessoa como ela é, com suas qualidades e
defeitos, crenças e emoções, sem pré-julgamentos.
O  conflito  surge  quando  há  a  necessidade  de  escolha  entre  situações  que  podem  ser  consideradas
incompatíveis. Todas as situações de conflito são antagônicas e perturbam a ação ou a tomada de decisões
por parte da pessoa ou de grupos. É um fenômeno subjetivo e de difícil percepção.
Segundo estudo de psicólogos especialistas em relacionamento humano, a eficiência em lidar com outras
pessoas é muitas vezes prejudicada pela falta de habilidades, de compreensão e de trato interpessoal. As
pessoas que têm mais habilidades em compreender os outros e têm traquejo interpessoal são mais eficazes
no relacionamento humano.
Assim,  através  da  educação  dos  nossos  próprios  sentimentos,  sejamos  ouvidores  ou  não,  estaremos
desenvolvendo  habilidades  necessárias,  alcançando  o  equilíbrio  entre  o  pensar,  sentir  e  agir  e
conseqüentemente, melhorando as nossas relações humanas e profissionais.
Karla Júlia Marcelino
Ouvidoria Geral do Estado/Sec. Especial de Articulação Social

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