terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Pítia ou Pitonisa

A Pítia ou Pitonisa


Sacerdotisa de Delfos

Os gregos davam o nome de Pitonisas a todas as mulheres que tinham a profissão de adivinhas, porque o deus da adivinhação, Apolo, era cognominado Pítio, quer por haver matado a serpente píton, quer por ter estabelecido o seu oráculo em Delfos, cidade primitivamente chamada Pito.
A pítia ou pitonisa propriamente dita era sacerdotisa do oráculo de Delfos. Sentada sobre o trípode ou cadeira alta com três pés, acima do abismo hiante donde brotavam as pretensas exalações proféticas, ela divulgava os seus oráculos uma vez por ano, no começo da primavera.
No começo só houve uma Pítia, mais tarde, quando o oráculo mereceu inteiro crédito, elegeram-se muitas sacerdotisas, que se substituíram umas às outras e podiam sempre dar resposta em um caso importante ou excepcional.
Antes de sentar na trípode, a Pítia sempre se banhava na fonte de Castália, jejuava três dias, mascava folhas de loureiro, e com religioso recolhimento, cumpria várias cerimônias. terminados esses preâmbulos, Apolo prevenia a sua chegada ao templo que tremia até os alicerces. Então a Pítia era pelos sacerdotes conduzida à trípode. Era sempre em transportes frenéticos que ela se desempenhava das suas funções, dava gritos, uivos e parecia possuída por um deus. Assim que desvendava o oráculo caía numa espécie de aniquilamento, que algumas vezes durava muitos dias. "Muitas vezes, diz Lucano, a morte imediata foi o prêmio do seu sofrimento e do seu entusiasmo".
A Pítia era escolhida com cuidado pelos sacerdotes de Delfos, que, por seu turno, eram encarregados da interpretação ou redação dos oráculos. Exigia-se que ela tivesse nascido legitimamente, que tivesse sido educada simplesmente e que essa simplicidade transparecesse em seus costumes. Não devia conhecer nem as essências nem tudo quanto o luxo refinado faz imaginar às mulheres. Era de preferência escolhida em uma casa pobre, onde tivesse vivido na mais completa ignorância de todas as coisas. Era bastante que soubesse falar e repetir o que o deus lhe dissesse.
Nem sempre o oráculo era desinteressado. Mais uma vez, por instigação dos seus ministros, e pelo boca de sua sacerdotisa, Apolo cortejou riqueza e poder. Os atenienses, por exemplo, acusaram a Pítia de se haver deixado corromper pelo ouro de Filipe da Macedônia.
O costume de consultar a Pítia remontava os tempos heróicos da Grécia. Diz-se que foi Femonoe a primeira sacerdotisa do oráculo de Delfos que fez o deus falar em versos hexâmetros, acrescenta-se que ela vivia sob o reinado de Acrício, avô de Perseu.

Referências
Mitologia Grega e Romana - P. Commelin

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Fatores de Perturbação - Medo e Solidão - Joanna de Ângelis

FATORES DE PERTURBAÇÃO

       A segunda metade do Século 19 transcorre numa Eurá¬sia sacudida pelas contínuas calamidades guerreiras, que se sucedem, truanescas, dizimando vidas e povos.
       As admiráveis conquistas da Ciência que se apóia na Tec¬nologia, não logram harmonizar o homem belicoso e insatis¬feito, que se deixa dominar pela vaga do materialismo-utili¬tarista, que o transforma num amontoado orgânico que pen¬sa, a caminho de aniquilamento no túmulo.
       Possuir, dominar e gozar por um momento, são a meta a que se atira, desarvorado.
       Mal se encerra a guerra da Criméia, em 1856, e já se in¬quietam os exércitos para a hecatombe franco-prussiana, cu¬jos efeitos estouram em 1914, envolvendo o imenso conti¬nente na loucura selvagem que ameaça de consumição a tudo e a todos.
       O Armistício, assinado em nome da paz, fomentou o ex¬plodir da Segunda Guerra Mundial, que sacudiu o Orbe em seus quadrantes.
       Somando-se efeitos a novas causas, surge a Guerra Fria, que se expande pelo sudeste asiático em contínuos conflitos lamentáveis, em nome de ideologias alienígenas, disfarçadas de interesses nacionais, nos quais, os armamentos superados são utilizados, abrindo espaços nos depósitos para outros mais sofisticados e destrutivos...
Abrem-se chagas purulentas que aturdem o pensamento, dores inomináveis rasgam os sentimentos asselvajando os indivíduos.
O medo e o cinismo dão-se as mãos em conciliábulo ir¬reconciliável.
A Guerra dos seis dias, entre árabes e judeus, abre sulcos profundos na economia mundial, erguendo o deus petróleo a uma condição jamais esperada.
Os holocaustos sucedem-se.
Os crimes hediondos em nome da liberdade se acumulam e os tribunais de justiça os apóiam.
O homem é reduzido à ínfima condição no “apartheid”, nas lutas de classes, na ingestão e uso de alcoólicos e drogas alucinógenas como abismo de fuga para a loucura e o suici¬dio.
Movimentos filosóficos absurdos arregimentam as men¬tes jovens e desiludidas em nome do Nadaísmo, do Existen¬cialismo, do Hippieísmo e de comportamentos extravagantes mais recentes, mais agressivos, mais primários, mais violen¬tos.
O homem moderno estertora, enquanto viaja em naves superconfortáveis fora da atmosfera e dentro dela, vencendo as distâncias, interpretando os desafios e enigmas cósmicos.
A sonda investigadora penetra o âmago da vida micros¬cópica e abre todo um universo para informações e esclareci¬mentos salvadores.
Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente pertur¬badoras.
A perplexidade domina as paisagens humanas.
A gritante miséria econômica e o agressivo abandono so¬cial fazem das cidades hodiernas o palco para o crime, no qual a criatura vale o que conduz, perdendo os bens materiais e a vida em circunstâncias inimagináveis.
Há uma psicosfera de temor asfixiante enquanto emerge do imo do homem a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela existência corporal.
Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou indiferente a ele.
Os distúrbios de comportamento aumentam e o despauté¬rio desgoverna.
Uma imediata, urgente reação emocional, cultural, religi¬osa, psicológica, surge, e o homem voltará a identificar-se consigo mesmo.
A sua identidade cósmica é o primeiro passo a dar, abrin¬do-se ao amor, que gera confiança, que arranca da negação e o irisa de luz, de beleza, de esperança.
A grande noite que constringe é, também, o início da al¬vorada que surge.
Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz.
Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento.
Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal.

Medo

Decorrente dos referidos fatores sociológicos, das pres¬sões psicológicas, dos impositivos econômicos, o medo as¬salta o homem, empurrando-o para a violência irracional ou amargurando-o em profundos abismos de depressão.
Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando, por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afetividade da criatura.
Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios just ificáveis do relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se, sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta, um com¬portamento alienado, que termina por apresentar-se igualmen¬te patológico.
As precauções para resguardar-se, poupar a família aos dissabores dos delinquentes, mantendo os haveres em luga¬res quase inexpugnáveis, fazem o homem emparedar-se no lar ou aglomerar-se em clubes com pessoal selecionado, per¬dendo a identidade em relação a si mesmo, ao seu próximo e consumindo-se em conflitos individualistas, a caminho dos desequilíbrios de grave porte.
Os valores da nossa sociedade encontram-se em xeque, porque são transitórios.
Há uma momentânea alteração de conteúdo, com a con¬seqüente perda de significado.
A nova geração perdeu a confiança nas afirmações do passado e deseja viver novas experiências ao preço da aluci¬nação, como forma escapista de superar as pressões que so¬fre, impondo diferentes experiências.
No âmago das suas violações e protestos, do vilipêndio aos conceitos anteriores vige o medo que atormenta e sub¬mete às suas sombras espessas.
A quantidade expressiva de atemorizados trabalha a qua¬lidade do receio de cada um, que cresce assustadoramente, comprimindo a personalidade, até que esta se libere em des¬regramento agressivo, como forma de escapar à constrição.
Quem, porém, não consiga seguir a correnteza da nova ordem, fica afogado no rio volumoso, perde o respeito por si mesmo, aliena-se e sucumbe.
Na luta furiosa, as festas ruidosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moedas e o exibicionismo com que algumas pessoas pensam vencer os medos íntimos, ape¬nas se transformam em lâminas baças de vidro pelas quais observam a vida sempre distorcida, face à óptica incorreta que se permitem. São atitudes patológicas decorrentes da fra¬gilidade emocional para enfrentar os desafios externos e in¬ternos.
A consumação da sociedade moderna é a história da desí¬dia do homem em si mesmo, enlanguescido pelos excessos ou esfogueado pelos desejos absurdos.
Adaptando-se às sombras dominadoras da insensatez, neglicencia o sentido ético gerador da paz.
A anarquia então impera, numa volúpia destrutiva, ten¬tando apagar as memórias do ontem, enquanto implanta a tirania do desconcerto.
Os seus vultos expressivos são imaturos e alucinados, em cuja rebelião pairam o oportunismo e a avidez.
Procedentes dos guetos morais, querem reverter a ordem que os apavora, revolucionando com atrevimento, face ao insólito, o comportamento vigente.
Os antigos ídolos, que condenaram a década de 20 e 30 como a da “geração perdida”, produziram a atual “era da in¬segurança”, na qual malograram as profecias exageradamen¬te otimistas dos apaniguados do prazer em exaustão, fabri¬cando os super-homens da mídia que, em análise última, são mais frágeis do que os seus adoradores, pois que não passam de heróis da frustração.
Guindados às posições de liderança, descambaram, esses novos condutores, em lamentáveis desditas, consumidos pe¬las drogas, vencidos pelas enfermidades ainda não controla¬das, pelos suicídios discretos ou espetaculares.
A alucinação generalizada certamente aumenta o medo nos temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo, no indivíduo, depois, na soci¬edade.
Esta é uma sociedade amedrontada.
As gerações anteriores também cultivaram os seus medos de origem atávica e de receios ocasionais.
O excesso de tecnicismo com a correspondente ausência de solidariedade humana produziram a avalanche dos recei¬os.
A superpopulação tomando os espaços e a tecnologia re¬duzindo as distâncias arrebataram a fictícia segurança indivi¬dual, que os grupos passaram a controlar, e as conseqüências da insânia que cresce são imprevistas.
Urge uma revisão de conceitos, uma mudança de condu¬ta, um reestudo da coragem para a imediata aplicação no or¬ganismo social e individual necrosado.
Todavia, é no cerne do ser — o Espírito — que se encon¬tram as causas matrizes desse inimigo rude da vida, que é o medo.
Os fenômenos fóbicos procedem das experiências passa¬das — reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao crime haver permanecido oculto, ou dissi¬mulado, ou não justiçado, transferindo-se a consciência fal¬tosa para posterior regularização.
Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdi-duras perversas, homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob disfarces de sorrisos produ¬ziram a atual consciência de culpa, de que padecem muitos atemorizados de hoje, no inter-relacionamento pessoal.
Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que desperta¬ram na tumba e vieram a falecer depois, por falta de oxigê¬nio, reencarnam-se vitimados pelas profundas claustrofobi¬as, vivendo em precárias condições de sanidade mental.
O medo é fator dissolvente na organização psíquica do homem, predispondo-o, por somatização, a enfermidades di¬versas que aguardam correta diagnose e específica terapêuti¬ca.
À medida que a consciência se expande e o indivíduo se abriga na fé religiosa racional, na certeza da sua imortalida¬de, ele se liberta, se agiganta, recupera a identidade e huma¬niza-se definitivamente, vencendo o medo e os seus sequa¬zes, sejam de ontem ou de agora.
 
5
Solidão

Espectro cruel que se origina nas paisagens do medo, a solidão é, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem.
A necessidade de relacionamento humano, como meca¬nismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensí¬veis e em todos quantos enfrentam problemas para um inter-câmbio de idéias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.
Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.
A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a bene¬fício de outrem.
O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consi¬deração e respeito ou conceda ao próximo este apoio que gostaria de fruir.
A mídia exalta os triunfadores de agora, fazendo o pane¬gírico dos grupos vitoriosos e esquecendo com facilidade os heróis de ontem, ao mesmo tempo que sepulta os valores do idealismo, sob a retumbante cobertura da insensatez e do oportunismo.
O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se. O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.
O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das idéias superiores, an¬tes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apóia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.
Quem, portanto, não se vê projetado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentiro¬sa, trabalhada em estúdios artificiais.
Parece muito importante, no comportamento social, rece¬ber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a esta¬dos de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.
O homem faz questão de ser visto, de estar cercado de bulha, de sorrisos embora sem profundidade afetiva, sem o calor sincero das amizades, nessas áreas, sempre superficiais e interesseiras. O medo de ser deixado em plano secundário, de não ter para onde ir, com quem conversar, significaria ser desconsiderado, atirado à solidão.
Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentando, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictí¬ci a.
A conquista desse triunfo e a falta dele produzem soli¬dão.
O irreal, que esconde o caráter legítimo e as lídimas aspi¬rações do ser, conduz à psiconeurose de autodestruição.
A ausência do aplauso amargura, face ao conceito falso em torno do que se considera, habitualmente como triunfo.
Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objeto de prazer, mascarado de afetividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, não se torna amável nem amada realmente.
Campeia, assim, o “medo da solidão”, numa demonstra¬ção caótica de instabilidade emocional do homem, que pare¬ce haver perdido o rumo, o equilíbrio.
O silêncio, o isolamento espontâneo são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, auto-aprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.
O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, tal¬vez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.
Os campeões de bilheteria nos shows, nas rádios, televi¬sões e cinemas, os astros invejados, os reis dos esportes, dos negócios cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.
Suicídios espetaculares, quedas escabrosas nos porões dos vícios e dos tóxicos comprovam quanto eles são tristes e so¬litários. Eles sabem que o amor, com que os cercam, traz, apenas, apelos de promoção pessoal dos mesmos que os en¬volvem, e receiam os novos competidores que lhes ameaçam os tronos, impondo-lhes terríveis ansiedades e inseguranças, que procuram esconder no álcool, nos estimulantes e nos de¬rivativos que os mantêm sorridentes, quando gostariam de chorar, quão inatingidos, quanto se sentem fracos e huma¬nos.
A neurose da solidão é doença contemporânea, que ame¬aça o homem distraído pela conquista dos valores de peque¬na monta, porque transitórios.
Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandeci¬mento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos ani¬mais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objetivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.
O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encon¬trar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.
A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o pra¬zer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.
O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confian¬ça nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.
Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, ao sugerir o “amor ao próximo como a si mesmo” após o “amor a Deus” como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se de modo a plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocu¬pação de receber resposta equivalente.
O homem solidário, jamais se encontra solitário.
O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.
Possívelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.
A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima — eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.
 

Fatores de Perturbação (Joanna de Ângelis)


Para ler ouvindo O Caminho Pisado, da minha banda preferida, Os Paralamas, tirada de um dos discos que eu peguei emprestado do meu pai e um dia pretendo devolver. Essa música fala sobre rotina e eu me pego cantando com frequência enquanto vou para o trabalho.

Joanna de Ângelis tem um livro chamado O Homem Integral em que apresenta sua "singela contribuição" para nos auxiliar na busca por equilíbrio e amadurecimento emocional tendo o mestre Jesus como modelo para nossa conduta. O livro completo está disponível nesse endereço aqui e meus comentários são sobre o primeiro capítulo, que estudamos juntos no 3 ciclo da mocidade.

O capítulo inicial do estudo de Joanna para encontrar o Homem Integral chama-se Fatores de Perturbação e são justamente os elementos que afastam o indivíduo espiritual de sua maturidade psicológica. Cada um desses fatores afeta e agrava o efeito dos demais, por isso a autora os apresenta como um sistema que prejudica a criatura. São quatro os fatores de perturbação, apresentados na seguinte ordem:

A rotina. "Disfarçada como segurança, emperra o carro do progres­so social e automatiza a mente, que cede o campo do raciocí­nio ao mesmismo cansador, deprimente.

O homem repete a ação de ontem com igual intensidade hoje; trabalha no mesmo labor e recompõe idênticos passos; mantém as mesmas desinteressantes conversações: retorna ao lar ou busca os repetidos espairecimentos: bar, clube, tele­visão, jornal, sexo, com frenético receio da solidão, até al­cançar a aposentadoria.. - Nesse ínterim, realiza férias progra­madas, visita lugares que o desagradam, porém reúne-se a outros grupos igualmente tediosos e, quando chega ao denominado período do gozo-repouso, deixa-se arrastar pela inu­tilidade agradável, vitimado por problemas cardíacos, que resultam das pressões largamente sustentadas ou por neuro­ses que a monotonia engendra."

A ansiedade. "As constantes alterações da Bolsa de Valores, a compressão dos gastos, a correria pela aquisição de recursos e a disputa de cargos e funções bem remunerados geram, de um lado, a insegurança individual e coletiva. Por outro, as ameaças de guerras constantes, a prepotência de governos inescrupulosos e chefes de atividades arbitrários quão ditadores; os anúncios e estardalhaços sobre enfermidades devastadoras; os comunicados sobre os danos perpetrados contra a ecologia prenunciando tragédias iminentes; a catalogação de crimes e violências aterradoras respondem pela inquietação e pelo medo que grassam em todos os meios sociais, como constante ameaça contra o ser e o seu grupo, levando-os a permanente ansiedade que deflui das incertezas da vida.

A preocupação de parecer triunfador, de responder de forma semelhante aos demais, de ser bem recebido e considerado é responsável pela desumanização do indivíduo, que se torna um elemento complementar no grupamento social, sem identidade, nem individualidade."

O medo. "Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando, por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afetividade da criatura.

Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios justificáveis do relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se, sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta, um comportamento alienado, que termina por apresentar-se igualmente patológico."

A solidão. "A necessidade de relacionamento humano, como mecanismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensíveis e em todos quantos enfrentam problemas para um intercâmbio de idéias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.

Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.

A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a benefício de outrem.

O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consideração e respeito ou conceda ao próximo este apoio que gostaria de fruir."

Cada um dos fatores de perturbação facilita o surgimento dos demais em uma sociedade massacrada pelas cobranças e exigências do Ter ao invés do Ser. Vivemos com necessidade de aprovação social, familiar, conjugal, profissional, ao mesmo tempo com medo de falhar. Como solução ao dilema, muitas pessoas definem para suas encarnações objetivos muito simples, que não tocam verdadeiramente a alma, mas que não provocarão frustração. São os verdadeiros sonhos pequenos que esvaziam na alma a capacidade de sonhar.

Joanna propõe uma outra resposta para o dilema dos quatro fatores de perturbação. Ela apresenta como solução a liberdade. E eu encerro o texto com os comentários sobre a liberdade real, desejando que a reflexão seja útil a todos nesse início de semana.

"As conquistas externas atulham as casas e os cofres de coisas, sem torná-­los lares  nem  recipientes  de  luz,  destituídos  de  significado,  quando  nos  momentos  magnos das grandes dores, dos fortes dissabores, da morte, que chegam a todos...

A liberdade, que se encerra no túmulo, é utópica, mentirosa.

Livre,  é  o  Espírito  que se  domina  e se  conquista. Movimentando-se  com  sabedoria por toda parte, idealista e amoroso, superando as injunções pressionadoras  e amesquinhantes."

Escritora americana relata sua história de superação

http://www.childhood.org.br/escritora-americana-relata-sua-historia-de-superacao-depois-do-abuso-sexual

Escritora americana relata sua história de superação depois do abuso sexual

Capa do livro "Você pode curar sua vida"
Quando tinha apenas cinco anos de idade, a escritora norte-americana Louise L. Hay foi abusada sexualmente por um velho vizinho bêbado. O homem foi condenado a 15 anos de prisão, mas as lembranças do trauma vivido não se apagaram facilmente. Depois da agressão sofrida, Hay conta que, ao invés de ser acolhida pelos adultos, ouvia muitas pessoas repetirem com freqüência que a culpa era dela. “Passei muitos anos temendo que quando o velho bêbado fosse libertado iria voltar e me pegar, por eu ter sido tão má a ponto de colocá-lo na cadeia”.

Em seu livro “Você pode curar sua vida – como despertar idéias positivas, superar doenças e viver plenamente”, a escritora conta sua própria história de coragem para conseguir superar as agressões sofridas na infância. “A maior parte de minha infância foi passada suportando tanto abusos físicos como sexuais, entremeados de muito trabalho pesado. Minha autoimagem foi ficando cada vez pior e poucas coisas pareciam dar certo para mim”.

Quando completou 15 anos, resolveu que não podia mais agüentar os abusos sexuais e fugiu de casa e da escola. A falta de segurança e valorização própria, no entanto, a fez expressar esse padrão derrotista no mundo exterior, como se ela não fosse merecedora de felicidade. Dessa forma, Hay começou a se desrespeitar e só atraía coisas ruins. “Estando faminta de amor e afeto, e tendo a menor possível das autoestimas, de bom grado eu dava meu corpo a qualquer homem que fosse gentil comigo”.

Aos 16 anos, Hay engravidou e precisou dar a criança a uma família, porque não tinha a menor condição de criá-la. “Na época, tudo aquilo era só um período vergonhoso que deveria ser esquecido o mais rápido possível”.

“A violência que experimentei quando criança, combinada com o sentimento de não ter nenhum valor, que desenvolvi ao longo dos anos, atraíam para minha vida homens que me maltratavam e frequentemente me agrediam”, relata.

No entanto, pouco a pouco, por causa do sucesso na área do trabalho, Hay começou a sentir-se melhor. Tornou-se modelo de alta-costura em Nova York, mesmo assim se criticava muito, recusando a reconhecer sua própria beleza. Acabou casando-se com um culto cavalheiro inglês, com quem viajou pelo mundo, conheceu a realeza e até jantou na Casa Branca.

“Apesar de ser uma modelo de sucesso e de ter um homem formidável, minha autoestima ainda era pouca e continuou assim por muito tempo, até eu começar o meu trabalho interior”.

Depois de 14 anos de casamento, quando ela começava a acreditar que as coisas boas podiam durar, seu marido passa a morar com outra mulher. Arrasada, Hay procurou ajuda na Igreja da Ciência Religiosa e fez meditação transcedental na Universidade Internacional de Maharishi, em Iowa. Tornou-se então ministra na igreja, ajudando muitas pessoas. Por causa deste trabalho, teve a inspiração de escrever seu primeiro livro “Cure o seu corpo” e depois da publicação passou a viajar muito dando palestras e cursos. Até que um dia, ela recebeu o diagnóstico de que estava com câncer. “Com meu passado de criança maltratada, onde se incluiu um estupro, não foi de admirar uma manifestação de câncer na área vaginal, mas entrei em pânico total”.

No entanto, por causa do seu trabalho, ela acreditava que o câncer, como muitas doenças, é causado por um profundo ressentimento duradouro. “Eu até então, me recusara a estar disposta a dissolver toda a raiva e ressentimento por causa da minha infância, mas percebi que tinha muito trabalho a fazer”.

Hay entendeu que se fizesse uma operação sem se livrar dos padrões mentais que haviam dado origem à doença, de nada adiantaria. Precisava se libertar e se amar muito mais. Começou a repetir todos os dias olhando para o espelho: “Louise, eu te amo de verdade!”.  E percebeu que não estava mais se diminuindo em certas situações como fazia no passado. “Com a ajuda de um bom terapeuta, expressei toda a velha e represada raiva socando almofadas e gritando de ódio, o que me fez sentir muito mais limpa. Comecei a sentir compaixão pelo sofrimento dos meus pais e a culpa que eu atirava neles foi se dissolvendo vagarosamente”.

Hay não precisou ser operada e descobriu que é possível superar a doença e a dor se estamos dispostos a mudar o modo de pensar e agir. “Às vezes, o que parece ser uma grande tragédia se transforma no melhor de nossas vidas. Aprendi isso por experiência própria e passei a valorizar a vida de uma nova maneira e procurar o que era realmente importante para mim”.

Louis L. Hay, tem 83 anos, já escreveu 27 livros e vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo todo. Quando não está viajando ela adora pintar, praticar jardinagem e dançar.

Esta entrada foi publicada em destaque e marcada com a tag agressão na infância, amor, autoestima, culp, cura, escritora americana, Louise Hay, superação do abuso. Adicione o link permanenteaos seus favoritos.

sábado, 26 de setembro de 2015

Conhecimento de si mesmo



Por Mauro Falaster

Conhecer: é reproduzir em nosso pensamento a realidade. Damos o nome de conhecimento à posse deste pensamento que concorda com a realidade. À concordância do pensamento com a realidade chamamos verdade.

Ma o que de fato, é pensar bem? André Maurois, em A Arte de Viver, diz-nos que é chegar a fazer de nosso pequeno modelo interior de mundo uma imagem tão exata quanto somos capazes, do grande mundo real.

O que é verdade? Conformidade com o real; exatidão; realidade, franqueza; sinceridade. Pauli, em Que é pensar, entende por verdade, no mais amplo sentido, a autenticidade que o conhecimento deve oferecer. Os dados são verdadeiros se são o que anunciam. Se os dados, na hipótese do psicologismo, se comportam como dados puros, a autenticidade se encontra nesta pureza. Se os dados, na hipótese do intencionalismo, anunciam objetos, a autenticidade se encontra em efetivamente noticiá-los, não dizendo que noticiam (quando de fato não noticiam e enganam), nem dizendo que noticiam tal espécie de objetos (quando de fato noticiam outra espécie). (1964, p. 88 e 89)

A busca do ser humano por respostas sobre a natureza e as coisas, a vida e si mesmo, já remonta de muitos e muitos séculos. No século V a.c. o filósofo grego Sócrates, já se preocupava com isso e dizia que antes do homem se preocupar em querer conhecer a origem da natureza ou das coisas, deveria primeiro procurar conhecer-se a si mesmo.

No pórtico do templo de Apolo, estava gravada a expressão "conhece-te a ti mesmo", que se tornou a bandeira do filósofo grego.

Sócrates andava pelas ruas e praças de Atenas; pelo mercado e pela assembléia, indagando as pessoas: "Você sabe o que você diz ?", "Você realmente tem certeza em que você acredita ?", "Você está realmente conhecendo aquilo em que acredita, aquilo em que pensa, ou em aquilo que você diz ?"

Consciência e ignorância

Fazendo estas perguntas as pessoas, Sócrates deixava seus interlocutores embaraçados, curiosos, irritados e na maioria das vezes surpresos, pois quando estas pessoas tentavam responder ao filósofo suas indagações, percebiam que na maioria das vezes não sabiam responder e que nunca tinham verdadeiramente parado para refletir em suas crenças, valores e ideias.

Logo em seguida as pessoas esperavam que Sócrates respondesse a elas o objeto de suas indagações, no que o filósofo respondia: "Eu também não sei, e é por isso que estou perguntando." De onde surgiu a célebre frase atribuída a ele: "Tudo o que sei é que nada sei".

Sócrates dava uma prova de humildade e sabedoria, afirmando a consciência da própria ignorância. Por questionar as idéias, os valores e os comportamentos que os atenienses julgavam corretos e verdadeiros, estimular o povo e principalmente a juventude ateniense a pensar e refletir se todos aqueles valores da época eram verdadeiros, Sócrates foi considerado um perigo pelos poderosos de Atenas.

Acusado de desrespeitar os deuses, corromper a juventude e violar as leis, como todo mártir, Sócrates foi condenado a morte. Negou-se a defender-se perante a assembléia, e quando interrogado pelos discípulos pelo porquê de sua decisão, disse: "se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu não as aceito. (...)".

Descobertas eficazes

Transportando a essência do pensamento de Sócrates para os nossos dias, será que atualmente o homem e, principalmente nós espíritas, conhecedores de tantas verdades do mundo espiritual, conhecemos a nós mesmos?

Sabemos que somos imortais, mas será que nas horas de crise ou nas situações difíceis, temos sabido manter a calma daquele que sabe que toda tempestade chega e passa e que por mais que a noite seja densa, não há nada que possa impedir o nascer de um novo dia? O conhecimento de si mesmo é crucial no processo de transformação. Sem ele nada poderemos conquistar de benéfico.

Exemplo: somos portadores de uma dor de cabeça constante, e tomamos o medicamento para paziguar a dor. Na medida que o efeito anestésico do remédio passa, volta a dor de cabeça tão desagradável.  Ao buscarmos a solução de consultar um médico, teremos a elucidação do problema e descobriremos que a dor de cabeça seja proveniente da má digestão, ou desarranjo que o estômago pode produzir no estado geral do nosso corpo físico. Descobrimos que ao reconhecer o mal, a causa, o resultado é eficaz, não mais nos preocupamos com o efeito, afastando de um só golpe os sintomas negativos.

Assim são com os problemas que nos rodeiam, com as provas que vamos conquistando devido as nossas imperfeições, devido a falta de percepção de quem somos. Necessário se faz identificar a causa, conhecê-la, para então darmos a devida atenção ao processo, a fim de sanear o que nos é danoso, isso é, modificar o comportamento, minimizar as imperfeições.

Vamos criando provas e mais provas em conseqüências das imperfeições que nos é inerente. São desastrosas para o nosso comportamento e não conseguimos atacá-las devido não conhecê-las. Com isso estamos sempre envoltos em problemas, decorrentes dos atos cometidos comandados por estas imperfeições.

Somos convidados a uma conduta mais elevada, mas, na realidade utilizamo-nos de uma falsa conduta, apenas exterior, como o anestésico para a dor de cabeça, sem realmente se conhecer a causa. Mudam o palavreado, os gestos, o tom da voz, a educação aparente se exacerba, a calma entre outros. Atitudes puramente externas, o que não opera nenhuma transformação, pois não é parte integrante do ser.

Para quem observa sabe que na primeira dificuldade o ser põe tudo por terra, o que é perfeitamente compreensível, pois não se ataca a causa mas sim o efeito. E nesta fase inicial que muitos abandonam o trabalho de melhora intima. O Homem estando de bem consigo mesmo, estará com os que o rodeiam, espelho do seu Eu. Em harmonia consigo, o Homem harmoniza-se com o Universo e com todos os seres.

O Universo interior em desarmonia, propiciará um desarmônico Universo exterior, resultado do não conhecimento de si mesmo, consequentemente do não conhecimento do outro e do Universo. A saúde ou a doença, a felicidade ou a infelicidade, a paz ou a violência, o crescimento ou a estagnação, o amor ou o medo, originam-se antes de tudo de como cada um se vê diante de si mesmo e diante do mundo que habita.

Por se desconhecer, o Homem vitimado por suas próprias "teias", carregam entre si desajustes familiares, fobias que prevalecem desde a infância, falta de amadurecimento psicológico e emocional. Fragilizados, tornam-se susceptíveis ao negativo, ao supérfluo e superficial e por medo armam-se ou fantasiam-se, ao invés de se conhecerem.

Há um abismo que separa o homem externo do interno; entre aquele que vence as distâncias físicas, mas não se auto-encontra; que resolve as dificuldades de fora e não equaciona as de dentro, evitando-as, mascarando-as, transferindo-as no tempo.

Inevitavelmente, esse indivíduo faz-se de vítima da própria conduta, tornando-se inseguro, insatisfeito, alienando-se. Atrelado à inquietação íntima, procura o prazer até a exaustão dos sentidos, e logo depois imerge em estados depressivos profundos, por falta de motivação e sentido psicológico para existência física.

Noutras situações busca o êxito que lhe assegure satisfações hedonistas, passando a acumular recursos amoedados, títulos, posições sociais, na mesma faixa dos valores externos de efêmera duração, que não têm poderes para apaziguar-lhe as ânsias dos sentimentos, as realizações pessoais de profundidade.

O triunfo, em tais casos, afigura-se como sendo o relevo social, as comodidades econômicas, os privilégios na comunidade. E exaure-se, nessa busca, reunindo e desperdiçando, temeroso pelo futuro e pela perda do brilho que se aplica, não atendendo ao chamado do amor, que plenifica por dentro quer possuindo coisas ou deixando de tê-las.

Considera como segurança a polpuda conta bancária, as jóias de alto preço, os bens imobiliários luxuosos, os veículos caros, girando as suas aspirações em torno dessas metas, a fim de poder desfrutar dos prazeres que elas facultam.

A saturação, a irritabilidade e o tédio são-lhe futuros estados pessoais, que o empurrarão para os alcoólicos, as drogas, o sexo descomprometido e comprado, a loucura, o suicídio ou as excitações que decorrem do crime, assim como das atitudes ilícitas, caso já não transite nessas experiências infelizes.

Quando esse homem se encontra em faixas sócio-econômicas menos privilegiadas, torna-se, igualmente, vítima de estados neurológicos de origem exógena, partindo para a agressividade, a violência, ou chegando aos estágios psicóticos maníacos-depressivos, que avassalam larga faixa da população terrestre, especialmente nas megalópoles atuais.

Enfrentar-se com tranqüilidade

Todo conflito não superado, consciente e emocionalmente, ressurge com máscara diversa aprisionado à mesma matriz psicológica. O inconsciente comanda o eu consciente através de automatismo muito bem elaborados durante todo o percurso sócio-antropológico, permanecendo mais na área do instinto primário repetitivo do que no racional lúcido, bem delineado.

O ser humano em si mesmo é sempre conseqüência dos seus atos anteriores. A cada realização desenvolvida apresentam-se novas propostas que dela resultam, ampliando o campo de crescimento emocional.

Os conflitos, portanto, à medida que vão sendo detectados e vivenciados racionalmente, desaparecem, porque as suas matrizes anteriores deixam de predominar no campo do inconsciente, que se renova diante das recentes diretrizes que direcionam ao arquivamento.

Quando o indivíduo pode enfrentar-se com tranqüilidade, administrar os valores negativos, estimulando os recursos positivos, sem ressentimentos das ocorrências infelizes nem os júbilos exacerbados, realiza um expressivo labor de psicossíntese, dispondo-se à radical mudança de conceitos perturbadores, para renovar-se com acendrado interesse na eliminação dos conflitos que remanescem teimosos.

A aquisição da consciência demanda tempo e esforço humano, tornando-se o grande desafio do processo da evolução do ser.

Graças, porém, à reencarnação, o progresso do ser é imperioso, inevitável, e os mecanismos da evolução se expressam, trabalhando-o e promovendo-o a níveis e patamares cada vez mais elevados, até quando o ser, liberto dos conflitos, conquista os sentimentos que canalizará na direção de novas metas, que alcança realizando-se, plenificando-se.

Já não luta contra as coisas, mas luta pelas coisas, que aprende a selecionar e qualificar, abandonando, por superação, as paixões dissolventes e fixando os valores que enobrecem.

A conquista de si mesmo resulta, portanto, do amadurecimento psicológico, pela racionalização dos acontecimentos, e graças às realizações da solidariedade, que facultam a superação das provas e dos sofrimentos, os quais passam então a ter um comportamento filosófico dignificante - instrumentos de valorização da vida - ao invés de serem castigos à culpa oculta, jacente no mundo íntimo.

Senhor do discernimento, o homem descobre que colhe de acordo com o que semeia, e que tudo quanto lhe acontece, procede, não tendo caráter castrador ou punitivo.

Jesus afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez, se se quisesse, bastando empenhar-se e entregar-se à realização. Para tanto, necessário seria a fé em si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam desenvolvidos a partir do momento da opção.


COMO CONHECER-SE:

a) Pela dor:
A dor é teleológica e leva consigo um destino. Por ela podemos saber o que fomos e, também, o que tencionamos ser. Ela é sempre positiva; no sofrimento, estamos purgando algo ou preparando-nos para o futuro.

b) Convívio com o próximo:
Podemos avaliar-nos, observando as reações dos outros com relação às nossas atitudes.

c) Auto-análise:
A auto-análise fundamenta-se numa cosmovisão transcendental da vida. A compreensão integral do homem se apoia em três esteios fundamentais: filosófico: paz com a verdade; psicológico: paz consigo mesmo; religioso: paz com o ser transcendental.

São técnicas que permitem o homem chegar a autenticidade de sua doença, não de tirar o homem da doença.

A reflexão e a auto-análise sobre as atividades diárias ajudam na percepção do erro. Podem contribuir muito para o conhecimento de si mesmo, identificando os pontos mais frágeis e inseguros e substituí-los pela força e confiança de que o acerto virá.

A fase inicial da vida, sob qualquer aspecto considerado, é a do sono. Por isso mesmo, o psiquismo "dorme no mineral, sonha no vegetal, sente no animal, pensa no homem", conforme sintetizou com muita propriedade o eminente filósofo espírita Léon Denis, e prossegue, com a imensa capacidade da intuição, no anjo, adquirindo novas experiências sem cessar, infinitamente.

O ser está fadado à perfeita sintonia com a Consciência Cósmica, que nele dorme, aguardando os fatores que lhe propiciem o desenvolvimento, o contínuo despertar.

Despertar, portanto, é indispensável, abandonando o letargo que procede das faixas por onde transitou, libertando-se do marasmo, em forma de sono da consciência, para as realidades transcendentes, desapegando-se das constrições que impedem a marcha, escravizando o Si nas paixões remanescentes, adormecidas, por sua vez, no inconsciente profundo, que prossegue enviando mensagens pessimistas e pertubadoras.

Despertar para a realidade nova da vida é como experimentar um parto interior, profundo, libertador, dorido e feliz.

O seu despertar é sempre doloroso, porque se lhes torna difícil abandonar os hábitos doentios e adotar novos comportamentos, que a princípio se fazem incomuns, incompletos, sem sentido.

Quando está desperto, lúcido para os objetivos essenciais da existência, ergue-se, o indivíduo, e sai do meio dos outros que estão mortos para a realidade.

O despertar é inadiável, porque liberta e concede autoridade para o discernimento. De tal forma se apresenta a capacidade de entender, que uma visão otimista e clara se torna a base do comportamento psicológico, portanto, do mecanismo íntimo para a aquisição da felicidade.

Essa realização não se dá somente quando tudo parece bem, mas sim, quando sucedem ocorrências que são convencionalmente denominadas como infortúnios. Diante de tais fatos, ao invés de haver uma revolta ou desespero, na serenidade do estar desperto, interroga-se: O que me está desejando dizer este fenômeno pertubardor ? Tratando-se de uma enfermidade, um desgaste físico, emocional ou psíquico, uma perda de valores amoedados ou de um trabalho, que é o sustento da existência, pergunta-se: Isto que me está acontecendo, que significado tem para o meu progesso ? Qual ou quais as razões destas mensagens ?

Disciplina da vontade para mudança

Essa faculdade de representar um ato que pode ou não ser praticado, como definem os bons dicionaristas, a vontade tem que ser orientada mediante a disciplina mental, trabalhada com exercícios de meditação, através de pensamentos elevados, de forma que gerem condicionamento novo, estabelecendo hábito diferente do comum.

Necessariamente são indispensáveis vários recursos que auxiliam a montagem dos equipamentos da vontade, a saber: paciência, perseverança, autoconfiança.

A paciência ensina que todo trabalho começa, mas não se pode aguardar imediato término, porque, conquistada uma etapa, outra surge desafiadora, já que o ser não cessa de crescer. Somente através de um programa cuidadoso e continuado logra-se alcançar o objetivo que se busca.

Tranqüilamente se processa o trabalho de cada momento, abrindo-se novos horizontes que serão desbravados posteriormente, abandonando-se a pressa e não se permitindo afligir porque não se haja conseguido concluí-lo.

A paciência é recurso que se treina com a insistência para dar continuidade a qualquer empreendimento, esperando-se que outros fatores, que independem da pessoa, contribuam para os resultados que se espera alcançar.

Esse mecanismo é todo um resultado de esforço bem direcionado, consistindo no ritmo do trabalho que não deve ser interrompido.

Lentamente são criados no inconsciente condicionamentos em favor da faculdade de esperar, aquietando as ansiedades perturbadoras e criando um clima de equilíbrio emocional no ser.

A perseverança se apresenta como pertinácia, insistência no labor que se está ou se pretende executar, de forma que não se interrompa o curso programado. Mesmo os desafios se manifestam, a firmeza da decisão pela consciência do que se vai efetuar, faculta maior interesse no processo desenvolvido, propondo levar o projeto até o fim, sem que o desânimo encontre guarida ou trabalhe desfavoravelmente.

Somente através da perseverança é que se consegue amoldar as ambições aos atos, tornando-os realizáveis, materializando-os, particularmente no que diz respeito àqueles de elevada qualidade moral, que resultam em bênçãos de qualquer natureza em favor do Espírito.

Da conquista da paciência, face à perseverança que a completa, passa-se à autoconfiança, à certeza das possibilidades existentes que podem ser aplicadas em favor dos anseios íntimos. Desaparecem o medo e os mecanismos autopunitivos, auto-afligentes, que são fatores dissolventes do progresso, da evolução do ser.

Mediante essa conquista, a vontade passa a ser comandada pela mente saudável, que discerne entre o que deve e pode fazer, quais são os objetivos da sua existência na Terra e como amadurecer emocional e psicologicamente, para enfrentar as vicissitudes, as dificuldades, os problemas que fazem parte de todo o desenrolar do crescimento interior.

Nesse trabalho, a criança psicológica, adormecida no ser e que teima por ser acalentada, cede lugar ao adulto de vontade firme e confiante, que programa os seus atos trabalhando com afinco para conseguir resultados satisfatórios. Nessa empreitada ele não deseja triunfar sobre os outros, conquistar o mundo, tornar-se famoso, conduzir as massas, ser deificado, porque a sua é a luta para conquistar-se, realizar-se interiormente, de cujo esforço virão as outras posses, essas de secundária importância, mas que fazem parte também dos mecanismos existenciais, que constituem o desenvolvimento, o progresso da sociedade, o surgimento das suas lideranças, dos seus astros e construtores do futuro.

Triunfo possível

Esse esforço deve ser empreendido imediatamente, estimulando-se a criatura à coragem de autoconhecer-se, de autotrabalhar-se, de crescer interiormente. A tarefa não é fácil, notadamente para quem acredita nas fugas para fora, ou cultiva os medos íntimos. Iniciando-a nos atos da solidariedade, vai deixando que se lhe desabrochem os sentimentos nobres e esplendam à luz da vida, cada vez mais atraída pelo Divino Sol, que é Jesus-cristo, o Terapeuta que ensinou essa técnica perfeita da felicidade mediante o amor.

A conquista de si mesmo está ao alcance do querer para ser, do esforçar-se para triunfar, do viver para jamais morrer...

Não se deve desistir nunca, nem desanimar, pois não é o erro que derrota o homem, e sim, sua insegurança, sua falta de confiança em si e em Deus.


Bibliografia:

O Livro dos Espíritos - Allan Kardec

O despertar do Espírito - Divaldo Franco (Joanna de Ângelis-espírito)

O Ser Consciente - Divaldo Franco (Joanna de Ângelis-espírito)

Vida: Desafios e Soluções - Divaldo Franco (Joanna de Ângelis-espírito)

Sob a Proteção de Deus (Conquistas Internas e Externos) - Divaldo Pereira Franco (Manoel Philomeno de Miranda)

Glossário

Verbete: cosmovisão
[De cosmo + visão.]
S. f.
1. Concepção ou visão do mundo.

[Sin.: mundividência e (al.) Weltan schauung.]

Verbete: transcendental
[De transcendente + -al.]
Adj. 2 g.
1. V. transcendente (1 a 3).
2. Filos. No kantismo, diz-se quer do que se refere ao conhecimento das condições a priori da experiência, quer do que ultrapassa os limites da experiência.

~V. idealismo -, idéia -, lógica -, realismo - e transcendentais.

Verbete: psicossíntese
A psicossíntese é uma proposta de trabalho psicológico e educacional, que tem por objetivo a conexão com a nossa verdade interna, com nosso Eu Transpessoal. Para fazermos essa conexão precisamos conhecer a nossa personalidade, seus diferentes aspectos e funcionamento até para compreender a origem de nossas dificuldades, que estão em algum nível armazenados e reprimidos dentro de nós, que acabam controlando nossa ação e a nossa liberdade. (fonte: terapiascomplementares.com.br)

Agostinho - Guia HEU


http://www.guia.heu.nom.br/aurelio_agostinho.htm

BIOGRAFIA DE S. AGOSTINHO

BIOGRAFIA DE S. AGOSTINHO

Aurelius Augustinus, mais conhecido na Igreja Católica como Santo Agostinho, nasceu em Tagaste de Numídia, província romana do norte da África, em 13 de novembro de 354. Foi o primogênito do pagão Patrício e da fervorosa cristã Mônica. Criança alegre, buliçosa, entusiasta do jogo, travessa e amante da amizade, não gostava muito de estudar porque os mestres usavam métodos agressivos e não eram sinceros.

Ante os adultos se revelava como “um menino de grandes esperanças”, com inteligência clara e coração inquieto. Nessa luta Agostinho vai contra o desejo da mãe, católica fervorosa, de ver o filho convertido ao Cristianismo, mas Agostinho é um homem comum cheio de vicissitudes que passou, ainda na juventude, a viver com uma mulher a quem foi fiel, tendo se tornado pai com apenas 19 anos. Depois da morte do pai foi para Cartago e se meteu num grupo de jovens baderneiros e, desorienta, ingressou na seita dos maniqueus, da qual participou por nove anos, sem ali conseguir a descoberta de uma verdade que lhe aquietasse a alma. Viveu assim longos anos com ânimo disperso.

Estando em Milão, ao ouvir uma canção infantil, na voz cristalina de uma criança que insiste “Toma, lê”, faz com que ele procure o livro a respeito de “Paulo” e ingresse no Cristianismo. Era outono do ano 386; contava ele então 32 anos. Agostinho começa a ensinar e busca a fama sem muita preocupação, buscando uma mundo diferente, um mundo novo. Os amigos o convenceram a viajar para Roma, onde conhece o bispo Ambrósio e aos poucos sua existência foi tomando novo rumo. Chegou a ser brilhante professor de retórica em Cartago, Milão e Roma. Deixando a docência, retira-se para Cassiaco, recinto de paz e silêncio e põe em prática o Evangelho em profunda amizade compartilhada: vida de quietude, animada somente pela paixão à verdade.

Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento em Milão, onde escreve seus diálogos filosóficos e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo das mãos do bispo Ambrósio. Sua existência daquele momento em diante seria meditar, escrever livros, discursar. No ano de 391, é chamado a Hipona, um grande centro comercial, e cinco anos depois foi nomeado bispo auxiliar de Hipona. Consagrado mais tarde bispo, converteu sua residência em casa de oração e tribunal de causas. Inspirador da vida religiosa, pastor de almas, administrador de justiça, defensor da fé e da verdade, prega e escreve de forma infatigável e condensa o pensamento do seu tempo. Grande era a luta, à época, contra as chamadas heresias.

As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma idéia, interrompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: “Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por ti. Tarde Te amei. ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te
amei... Tocaste-me, e ardo de desejo de alcançar Tua paz”.

Agostinho defrontou-se com dificuldades para conciliar a criação da alma com o “pecado original”, porque não sabia explicar como a alma criada por Deus, podia nascer com o pecado original. Para ele, cada pessoa possui uma alma, sendo-nos impossível saber a sua origem, porque é um mistério divino, mas, depois que surge continua a existir eternamente. Daí a sua crença na imortalidade. Imaginava que a alma poderia ser feliz ou infeliz na eternidade, dependendo dos atos praticados na existência. Não foi, portanto, à toa que ele chegou à conclusão dessa dificuldade ao proferir sua célebre frase sobre o tempo, contida no Livro XI item 14, de suas “Confissões”.

Agostinho inspirou-se em Platão, e os problemas que o preocupam eram de ordem moral: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. Ele dizia que a razão ajuda o ser humano a alcançar a fé; em seguida, a fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé. Para ele, “o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre”. O problema da liberdade está relacionado com a reflexão sobre o mal, sua natureza e sua origem.

Em 429 os vândalos, guiados por Genserico atravessam o Estreito de Gibraltar e atacam o norte africano. Agostinho, cercado com seu povo, sente amargura e luto, mas alenta o ânimo de seus fiéis e os convida à defesa. No terceiro mês do assédio, aos 76 anos de existência, em 28 de agosto de 430, morreu como um autêntico cristão, alegrando desse modo o coração da sua mãe que tanto rezou pela conversão do filho...

Convidado na Espiritualidade a participar da equipe do Espírito de Verdade, as ponderações do Espírito de Agostinho podem ser encontradas em vários momentos da Obra Kardequiana, como “O Livro dos Espíritos” (prolegômenos, resposta às questões 495, 919 e 1009); ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo” (capítulo III, itens 13 e 19; capítulo V, item 19; capítulo XII, ltens 12 e 15; capítulo XIV, item 9; capítulo XXVII, item 23); “O Livro dos Médiuns” (capítulo XXXI, dissertações de números 1 e XVI).

O Espírito de Erasto, discípulo de Paulo, em uma de suas comunicações, afirma: “Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte. Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo. Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos Superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos. Depois de ter perdido sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera na vida futura”.

A questão n. 919 de “O Livro dos Espíritos”, que aborda o tema “Conhecimento de si mesmo”, foi respondida pelo Espírito de Agostinho. Indagado pelo Codificador sobre qual é o meio prático mais eficaz que tem o ser humano de se melhorar nesta existência e de resistir à atração do mal, responde dizendo: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: “Conhece-te a ti mesmo”. E em seguida dissertou: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra; ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvesse feito, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecesse, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria”. . .




Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende

Santo Agostinho

Santo Agostinho
354-430

biografia

Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, em Tagaste, pequena cidade da atual Argélia. Na cidade natal transcorreram sua infância e juventude, um ambiente limitado de um povoado perdido entre montanhas.



Talhado para a oratória, ele lê e decora trechos de poetas e prosadores latinos. Aprende elementos de música, física e matemática.



Em Cartago fez seus estudos superiores e ali também entrou em contato com a alegria e esplendor das cerimônias em honras aos deuses protetores do Império.



Embora seja descrito como um jovem ponderado, dedicado aos livros, ele confessa que "amar e ser amado era uma coisa deliciosa". Ele passou a viver com uma mulher a quem foi fiel, tendo se tornado pai em 373, com apenas 19 anos. Seu filho, de nome Adeodato, morreria aos 17 anos.



Desejava se destacar na eloqüência, confessa, por orgulho. Desejava ser o melhor. Um livro de Cícero o alerta que "a verdadeira felicidade reside na busca da sabedoria."



Retorna à sua cidade natal e se dedica ao ensino, por treze anos, depois ensina em Cartago e Roma. Dedicou-se ao estudo das Escrituras, contudo, achou seu estilo tão simples que se desiludiu e o abandonou.



Em Milão parecia ser um homem feliz: pago pelo Estado, personagem quase oficial (ocupava a cátedra da eloqüência), respeitado como professor. No entanto, ele se mostra inquieto. Busca a verdadeira alegria e não a encontra.



Afeiçoou-se ao maniqueísmo, doutrina do profeta persa Mani. Após 12 anos, insatisfeito com as respostas que a doutrina não lhe dava, recomeça a ler os Evangelhos e assistir os sermões do bispo Ambrósio, que o recebeu como um pai.



Uma canção infantil, na voz cristalina de uma criança que insiste "Toma, lê", faz com que ele procure o livro a respeito de São Paulo e retorne em definitivo ao cristianismo.



Sua vida daquele momento em diante seria meditar, escrever livros, discursar. Em 391, é chamado a Hipona, um grande centro comercial de cerca de 30.000 habitantes. Cinco anos depois seria sagrado bispo auxiliar de Hipona.



Grande era a luta, à época contra as chamadas heresias. Agostinho, sempre orador oficial, nos sínodos e concílios em Cartago nunca esquece que "mais valioso que a palavra é o amor fraterno... Os olhos dos doentes queimam, por isso são tratados com delicadeza... Os médicos são delicados até com os doentes mais intolerantes: suportam o insulto, dão o remédio, não revidam as ofensas."



As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma idéia interrompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: "Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por Ti. Tarde Te amei, ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te amei... Tocaste-me, e ardo de desejo de alcançar a Tua paz."



Duas vezes por semana falava na Igreja da Paz. Certa vez, discorrendo a respeito de São João se entusiasmou de tal forma que pregou durante cinco dias consecutivos, sempre aplaudido.



Mas, dizia: "Vossos louvores são folhas de árvores; gostaria de ver os frutos." Tal era a admiração que tinham por Agostinho, que chegaram a acreditar que ele fosse capaz de produzir curas e lhe levavam doentes.



"Se eu tivesse poder para curar", dizia, "curaria a mim mesmo".



A doença que o tomou durou poucos dias. Percebendo que se avizinhava a morte, pediu que o deixassem a sós, para orar.



Morreu na noite de 28 para 29 de agosto de 430, aos 76 anos. Não deixou testamento, mesmo porque não tinha bens.



Os pintores medievais o retratam com o livro na mão e o coração em chamas. O livro simboliza a ciência, o coração inflamado, o amor. Sabedoria e amor foram os seus dons inseparáveis.



Interessante anotar que embora seja sempre retratado com muita pompa e luxo, mesmo como bispo ele se recusava a usar o anel e a mitra.



Esse espírito foi convidado a participar da equipe do Espírito da Verdade e suas ponderações podem ser encontradas em vários momentos da Obra Kardeciana, entre eles em O livro dos espíritos (prolegômenos, resposta às questões 495, 919 e 1009), O evangelho segundo o espiritismo (cap. III, itens 13 e 19; cap. V, item 19; cap. XII, itens 12 e 15; cap. XIV, item 9; cap. XXVII, item 23), O livro dos médius (cap. XXXI, dissertações de número 1 e XVI - Acerca do espiritismo / Sobre as sociedades espíritas).



Fonte: Grandes personagens da História Universal, vol. 1 (Abril Cultural); O livro dos espíritos; O evangelho segundo o espiritismo; O livro dos médiuns.



Imagem: Tiffany stained-glass window of St. Augustine, in the Lightner Museum, St. Augustine, Florida. (Detail

Santo Agostinho e o Espiritismo

Santo Agostinho e o Espiritismo

 Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Biográficos. 3. As Duas Principais Obras Deixadas por Santo Agostinho: 3.1. Cidade de Deus; 3.2. Confissões. 4. Origens do Pensamento de Santo Agostinho. 5. Fé, Razão e Revelação. 6. Santo Agostinho e o Espiritismo: 6.1. Instruções Mediúnicas dadas por Santo Agostinho; 6.2. O Ponto de Vista do Espírito Erasto; 6.3. Nota de Allan Kardec. 7. Conclusão. 8. Vocabulário. 9. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Quem foi Santo Agostinho? O que nos deixou quando esteve encarnado? Qual a sua importância na codificação da Doutrina Espírita? As suas comunicações têm algum ranço do catolicismo? Para melhor conhecer esse Espírito, anotaremos os seus dados biográficos, os livros que publicou e as comunicações mediúnicas arroladas nas obras espíritas.
2. DADOS BIOGRÁFICOS
Agostinho (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (Raeper, 1997, p. 25)
3. AS DUAS PRINCIPAIS OBRAS DEIXADAS POR SANTO AGOSTINHO
3.1. CONFISSÕES
As Confissões de Santo agostinho, iniciada em 391 e concluída em 400, é uma obra fascinante. São treze livros, dos quais 9 auto-biografados e 4 teologais. Nela se apresenta como o Filho Pródigo e a Ovelha Perdida do Evangelho de Lucas – perdido e depois encontrado, tal como o apóstolo Paulo. 
Procura mostrar pelo seu exemplo o que pode a graça para os mais desesperados dos pecadores. Com admirável franqueza e contrição confessa os desregramentos de sua mocidade (teve inclusive um filho bastardo, Adeodato), sempre atribuindo a si mesmo as tendências perversas e a Deus os progressos de seu espírito para o bem.  Foi um homem em permanente batalha contra as suas próprias emoções e fraquezas.
Discute também questões acerca do tempo e a presença do mal no mundo.
3.2. CIDADE DE DEUS
Os principais temas são: a vontade humana, as relações entre teologia e razão e divisão da história entre as duas cidades – dos homens e de Deus.  
O pensamento político contido na Cidade de Deus forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antigüidade grega Agostinho retém as idéias de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que predomina a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez na caridade, ensinada por Cristo.  
4. ORIGENS DO PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho usou a filosofia a serviço da teologia, adotando as idéias platônicas e neoplatônicas e as moldando de acordo com a sua visão de mundo. Da mesma forma que Platão, acreditava que a alma habitava um corpo. Dizia: “O homem é uma alma racional habitando um corpo mortal”.
Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das idéias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo. Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as idéias divinas. Essas idéias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).
5. FÉ, RAZÃO E REVELAÇÃO
Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.
6. SANTO AGOSTINHO E O ESPIRITISMO
6.1. INSTRUÇÕES MEDIÚNICAS DADAS POR SANTO AGOSTINHO
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontra-se algumas comunicações deste insigne Espírito. São elas: Os Mundos de Expiações e de Provas, Mundos Regeneradores e Progressão dos Mundos (Cap. 3, 13 a 19), O Mal e o Remédio (Cap. 4, 19), O Duelo (Cap. 12, 11 e 12), A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família (Cap. 14, 9) e Alegria da Prece (Cap. 27, 23).
Em O Livro dos Médiuns há anotações Sobre o Espiritismo (Cap. 31, 1) e Sobre as Sociedades Espíritas (Cap. 31, 16).
6.2. O PONTO DE VISTA DO ESPÍRITO ERASTO
O Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, em uma de suas comunicações enfatiza:
1) Santo Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte.
2) Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo.
3) Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos.
4) Depois de ter perdido a sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera a vida futura”.
5) Hoje, vendo chegada a hora para a divulgação da verdade que ele havia pressentido outrora, se fez dela o ardente propagador, e se multiplica, por assim dizer, para responder a todos aqueles que o chamam. (Kardec, 1984, cap. 1, item 11, p. 41) 
6.3. NOTA DE ALLAN KARDEC 
Santo agostinho veio destruir aquilo que edificou? Não. Ele agora vê com os olhos do espírito; sua alma liberta da matéria entrevê novos horizontes, que lhe propiciam compreender o que não compreendia antes. Sobre a Terra, julgava as coisas segundo os conhecimentos que possuía, mas, quando uma nova luz se fez para ele, pode julgá-las mais judiciosamente. “Foi assim que mudou de idéia sobre sua crença concernente aos Espíritos íncubos e súcubos e sobre o anátema que havia lançado contra a teoria dos antípodas”. Com uma nova luz pode, sem renegar a sua fé, fazer-se propagador do Espiritismo, porque nele vê o cumprimento das coisas preditas. Proclamando-o, hoje, não faz senão nos conduzir a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos. (Kardec, 1984, cap. 1, p. 42)
7. CONCLUSÃO
A reflexão sobre a vida deste filósofo e religioso da época patrística nos revela que o progresso espiritual é uma constante. Será que o Espírito estaria pensando da mesma maneira, depois da sua experiência como católico? Não seria mais racional crer que ele tenha sido bafejado pelas luzes da verdade?
8. VOCABULÁRIO
Antípoda – Habitante que, em relação a outro do globo, se encontra em lugar diametralmente oposto.
Cícero (106-43)– Brilhante orador e político romano que se inspirava no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista etc. 
Íncubo – Demônio masculino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
Maniqueísmo – Seita persa que afirmava ser o Universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. doutrina que reduz a realidade à oposição irredutível de dois princípios contraditórios, o Bem e o Mal, aos quais correspondem as realidades espirituais e materiais.  
Neoplatonismo – Movimento filosófico do período greco-romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão. Entre os neoplatônicos, citam-se Plotino (205-270), Proclo (411-485). O neoplatonismo se espalhou por diversas cidades do Império Romano, sendo marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Patrística – Dá-se ao nome de patrística à fase de fundamentação e da fixação dos dogmas cristãos. Essa grande obra foi realizada pelos primeiros padres da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Eles buscavam estabelecer e explicar a doutrina cristã, mostrando que ela era perfeitamente digna de ser aceita pelas autoridades romanas e pelo povo em geral.
Súcubo - Demônio feminino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com um homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Idéias: Religião e Filosofia no Presente e no Passado. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 1997.
REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. 
São Paulo, agosto de 2005. 

Santo Agostinho - Biografia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona

http://www.suapesquisa.com/biografias/santo_agostinho.htm

http://www.e-biografias.net/santo_agostinho/

http://www.infoescola.com/biografias/santo-agostinho/

http://www.osa.org.br/osa/stoagostinho/vida.html


Introdução (quem foi)

Aurélio Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona foi um importante bispo cristão e teólogo. Nasceu na região norte da África em 354 e morreu em 430. Era filho de mãe que seguia o cristianismo, porém seu pai era pagão. Logo, em sua formação, teve importante influência do maniqueísmo (sistema religioso que une elementos cristãos e pagãos).

Biografia resumida

Santo Agostinho ensinou retórica nas cidades italianas de Roma e Milão. Nesta última cidade teve contato com o neoplatonismo cristão.

Viveu num monastério por um tempo. Em 395, passou a ser bispo, atuando em Hipona (cidade do norte do continente africano). Escreveu diversos sermões importantes. Em “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho combate às heresias e a paganismo. Na obra “Confissões” fez uma descrição de sua vida antes da conversão ao cristianismo.

Santo Agostinho analisava a vida levando em consideração a psicologia e o conhecimento da natureza. Porém, o conhecimento e as idéias eram de origem divina.

Para o bispo, nada era mais importante do que a fé em Jesus e em Deus. A Bíblia, por exemplo, deveria ser analisada, levando-se em conta os conhecimentos naturais de cada época. Defendia também a predestinação, conceito teológico que afirma que a vida de todas as pessoas é traçada anteriormente por Deus.

As obras de Santo Agostinho influenciaram muito o pensamento teológico da Igreja Católica na Idade Média.

Morreu em 28 de agosto (dia suposto) de 420, durante um ataque dos vândalos (povo bárbaro germânico) ao norte da África.

Santo Agostinho é considerado o santo protetor dos teólogos, impressores e cervejeiros. Seu dia é 28 de agosto, dia de sua suposta morte.

Algumas obras de Santo Agostinho:

- Da Doutrina Cristã (397-426)
- Confissões (397-398)
- A Cidade de Deus (413-426)
- Da Trindade (400-416)
- Retratações
- De Magistro
- Conhecendo a si mesmo

Frases e Pensamentos de Santo Agostinho:

- "Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo."
- "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza."
- "Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor."
- "Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."
- "Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."
- "A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."
- "A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."
- "A verdadeira medida do amor é não ter medida."
- "Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio."


SÓCRATES – COMPILAÇÃO

http://www.acasadoespiritismo.com.br/temas/socrates.htm


SÓCRATES – COMPILAÇÃO

02 - A CAMINHO DA LUZ - EMMANUEL - PÁG. 93

É por isso que, de todas as grandes figuras daqueles tempos longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa figura de Sócrates, na Atenas antiga. Superior a Anaxágoras, seu mestre, como também imperfeitamente interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filósofo está aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos os séculos planetários. Sua existência, em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo. Sua palavra confunde todos os espíritos mesquinhos da época e faz desabrochar florações novas de sentimento e cultura na alma sedenta da mocidade.

Nas praças públicas, ensina à infância e à juventude o formoso ideal da fraternidade e da prática do bem, lançando as sementes generosas da solidariedade dos pósteros. Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro de Jesus. Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilando-lhes o veneno da liberdade nos corações.

Preso e humilhado, seu espírito generoso não se acovarda diante das provas rudes que lhe extravasam do cálice de amarguras. Consciente da missão que trazia, recusa fugir do próprio cárcere, cujas portas se lhe abrem às ocultas pela generosidade de alguns juizes. Os enviados do plano invisível cercam-lhe o coração magnânimo e esclarecido, nas horas mais ásperas e agudas da provação; e quando a esposa, Xantipa, assoma às grades da prisão para comunicar-lhe a nefanda condenação à morte pela cicuta, ei-la exclamando no auge da angústia e desesperação:

— "Sócrates, Sócrates, os juizes te condenaram à morte..."— "Que tem isso? — responde resignadamente o filósofo — eles também estão condenados pela Natureza."— "Mas essa condenação é injusta..." — soluça ainda a desolada esposa. E ele a esclarece com um olhar de paciência e de carinho:— "E quererias que ela fosse justa?" Senhor do seu valoroso e resignado heroísmo, Sócrates abandona a Terra, alçando-se de novo aos páramos constelados, onde o aguardava a bênção de Jesus.

A - OS DISCÍPULOS
O grande filósofo que ensinara à Grécia as mais belas virtudes, como precursor dos princípios cristãos, deixou vários discípulos, dos quais se destacaram Antístenes, Xenofonte e Platão. Falaremos, apenas, deste último, para esclarecer que nenhum deles soube assimilar perfeitamente a estrutura moral do mestre inesquecível. A História louva os discursos de Platão, mas nem sempre compreendeu que ele misturou a filosofia pura do mestre com a ganga das paixões terrestres, enveredando algumas vezes por complicados caminhos políticos.

Não soube, como também muitos dos seus companheiros, conservar-se ao nível de alta superioridade espiritual, chegando mesmo a justificar o direito tirânico dos senhores sobre os escravos, sem uma visão ampla da fraternidade humana e da família universal. Contudo, não deixou de cultivar alguns dos princípios cristãos legados pelo grande mentor, antecipando-se ao apostolado do Evangelho, antes de entregar a sua tarefa doutrinária a Aristóteles, que ia também trabalhar pelo advento do Cristianismo.

B - PROVAÇÃO COLETIVA DA GRÉCIA
A condenação de Sócrates foi uma dessas causas transcendentes de dolorosas e amargas provações coletivas, para todos os espíritos que participaram dela, na medida justa das responsabilidades pessoais entre si. E é em razão disso que, mais tarde, vemos o povo nobre e culto de Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e enérgicos de Roma. Eles iam nas galeras suntuosas, humilhados e oprimidos, sem embargo das suas elevadas noções da vida, do amor, da liberdade e da justiça.

- E' verdade que iam instaurar um novo período de progresso espiritual para as coletividades romanas, com os seus luminosos ensinamentos, mas o processo evolutivo poderia ladear outros caminhos, longe do morticínio e da escravidão. Todavia, sobre a fronte de muitos gregos ilustres, pairava o sanguinolento labéu daquela injusta condenação, labéu ignominioso que a Grécia deveria lavar com as lágrimas dolorosas da compunção e do cativeiro.

15 - O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - ALLAN KARDEC - INTRODUÇÃO IV

IV. SÓCRATES E PLATÃO, PRECURSORES DA DOUTRINA CRISTÃ E DO ESPIRITISMO

Da suposição de que Jesus devia conhecer a seita dos Essênios, seria errado concluir que Ele bebeu nessa seita a sua Doutrina, e que, se tivesse vivido em outro meio, professaria outros princípios. As grandes idéias não aparecem nunca de súbito. As que têm a verdade por base contam sempre com precursores, que lhes preparam parcialmente o caminho. Depois, quando o tempo é chegado, Deus envia um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, com eles formando um corpo de doutrina. Dessa maneira, não tendo surgido bruscamente, a doutrina encontra, ao aparecer, espíritos inteiramente preparados para a aceitar. Assim aconteceu com as idéias cristãs, que foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus e dos Essênios, e das quais foram Sócrates e Platão os principais precursores.

Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou pelo menos nada deixou escrito. Como o Cristo, teve a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças tradicionais e colocado a verdadeira virtude acima da hipocrisia e da ilusão dos formalismos, ou seja, por haver combatido os preconceitos religiosos. Assim como Jesus foi acusado pelos Fariseus de corromper o povo com seus ensinos, ele também foi acusado pelos Fariseus do seu tempo — pois que os têm havido em todas as épocas — de corromper a juventude, ao proclamar: A - o dogma da unicidade de Deus, B - da imortalidade da alma e C - da existência da vida futura. Da mesma maneira porque hoje não conhecemos a Doutrina de Jesus senão pelos escritos dos seus discípulos, também não conhecemos a de Sócrates, senão pelos escritos do seu discípulo Platão. Consideramos útil resumir aqui os seus pontos principais, para demonstrar sua concordância com os princípios do Cristianismo.

Aos que encararem este paralelo como uma profanação, pretendendo não ser possível haver semelhanças entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, responderemos que a doutrina de Sócrates não era pagã, pois tinha por finalidade combater o paganismo, e que a doutrina de Jesus, mais completa e mais depurada que a de Sócrates, nada tem que perder na comparação. A grandeza da missão divina do Cristo não poderá ser diminuída. Além disso, trata-se de fatos históricos, que não podem ser escondidos. O homem atingiu um ponto em que a luz sai por si mesma de debaixo do alqueire e o encontra maduro para a enfrentar.

Tanto pior para os que temem abrir os olhos. E chegado o tempo de encarar as coisas do alto e com amplitude, e não mais do ponto de vista mesquinho e estreito dos interesses de seitas e de castas. Estas citações provarão, além disso, que, se Sócrates e Platão pressentiram as idéias cristãs, encontram-se igualmente na sua doutrina os princípios fundamentais do Espiritismo.

RESUMO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E PLATÃO

I — O homem é uma alma encarnada. Antes de sua encarnação, ela existia junto aos modelos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e do belo. 'Separou-se deles ao encarnar-se, e, lembrando seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de a eles voltar. Não se pode enunciar mais claramente a distinção e a independência dos dois princípios, o inteligente e o material. Além disso, temos aí a doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela conserva, da existência de outro mundo, ao qual aspira; de sua sobrevivência à morte do corpo; de sua saída do mundo espiritual, para encarnar-se; e da sua volta a esse mundo, após a morte. E, enfim, o germe da doutrina dos anjos decaídos.

II — A alma se perturba e confunde, quando se serve do corpo para considerar algum objeto; sente vertigens, como se estivesse ébria, porque se liga a coisas que são, por sua natureza, sujeitas a transformações. Em vez disso, quando contempla sua própria essência, ela se volta para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo da mesma natureza, permanece nessa contemplação tanto tempo quanto possível. Cessam, então, as suas perturbações, e esse estado da alma é o que chamamos de sabedoria. Assim, o homem que considera as coisas de baixo, terra-a-terra, do ponto de vista material, vive iludido. Para apreciá-las com justeza, é necessário vê-las do alto, ou seja, do ponto de vista espiritual. O verdadeiro sábio deve, portanto, de algum modo, isolar a alma do corpo, para ver com os olhos do espírito. E isso o que ensina o Espiritismo.

III — Enquanto tivermos o nosso corpo, e a nossa alma encontrar-se mergulhada nessa corrupção, jamais possuiremos o objeto de nossos desejos: a verdade. De fato, o corpo nos oferece mil obstáculos, pela necessidade que temos de cuidar dele; além disso, ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira que, com ele, é impossível sermos sábios por um instante. Mas, se nada se pode conhecer puramente, enquanto a alma está unida ao corpo, uma destas coisas se impõe: ou que jamais se conheça a verdade, ou que se conheça após a morte. Livres da loucura do corpo, então conversaremos, é de esperar, com homens igualmente livres, e conheceremos por nós mesmos a essência das coisas. Eis porque os verdadeiros filósofos se preparam para morrer, e a morte não lhes parece de maneira alguma temível. Temos aí o princípio das faculdades da alma, obscurecidas pela mediação dos órgãos corporais, e da expansão dessas faculdades depois da morte. Mas trata-se, aqui, das almas evoluídas, já depuradas; não acontece o mesmo com as almas impuras.

IV — A alma impura, nesse estado, encontra-se pesada, e é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, então, segundo se diz, ao redor dos monumentos e dos túmulos, junto dos quais foram vistos às vezes fantasmas tenebrosos, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo, sem estarem inteiramente puras, e que conservam alguma coisa da forma material, o que permite aos nossos olhos percebê-las. Essas não são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses lugares, onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a errar, até que os apetites inerentes à sua forma material as devolvam a um corpo. Então, elas retomam, sem dúvida, os mesmos costumes que, durante a vida anterior, eram de sua predileção.

Não somente o princípio da reencarnação está aqui claramente expresso, mas também o estado das almas que ainda estão sob o domínio da matéria é descrito tal como o Espiritismo o demonstra, nas evocações. E há mais, pois, afirma-se que a reencarnação é uma consequência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas estão livres dela. O Espiritismo não diz outra coisa, apenas acrescenta que a alma que tomou boas resoluções na erraticidade, e que tem conhecimentos adquiridos, trará menos defeitos ao renascer, mais virtudes e mais idéias intuitivas do que na existência precedente, e que, assim, cada existência marca para ela um progresso intelectual e moral.

V — Após a nossa morte, o gênio (daimon, démorí) que nos havia sido designado durante a vida, nos leva a um lugar onde se reúnem todos os que devem ser conduzidos ao Hades, para o julgamento. As almas, depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida, por numerosos e longos períodos. Esta é a doutrina dos Anjos Guardiães ou Espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos de erraticidade.

VI — Os demônios preenchem o espaço que separa o céu da terra; são o laço que liga o Grande Todo consigo mesmo. A divindade não entra jamais em comunicação direta com os homens, mas é por meio dos demônios que os deuses se relacionam e conversam com eles, seja durante o estado de vigília, seja durante o sono. A palavra daimon, da qual se originou demônio, não era tomada no mau sentido pela antiguidade, como entre os modernos. Não se aplicava essa palavra exclusivamente aos seres malfazejos, mas aos Espíritos em geral, entre os quais se distinguiam os Espíritos superiores, chamados deuses, e os Espíritos menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que se comunicavam diretamente com os homens. O Espiritismo ensina também que os Espíritos povoam o espaço; que Deus não se comunica com os homens senão por intermédio dos Espíritos puros, encarregados de nos transmitir a sua vontade; que os Espíritos se comunicam conosco durante o estado de vigília e durante o sono. Substituí a palavra demônio pela palavra Espírito, e tereis a Doutrina Espírita; ponde a palavra anjo, e tereis a doutrina cristã.

VII — A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendem Sócrates e Platão) é a de ter o maior cuidado com a alma, menos em vista desta vida, que é apenas um instante, do que em vista da eternidade. Se a alma é imortal, não é sábio viver com vistas à eternidade? O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.

VIII — Se a alma é imaterial, ela deve passar, após esta vida, para um mundo igualmente invisível e imaterial, da mesma maneira que o corpo, ao se decompor, retorna à matéria. Importa somente distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se nutre, como Deus, da ciência e de pensamentos, da alma mais ou menos manchada de impurezas materiais, que a impedem de elevar-se ao divino, retendo-a nos lugares de sua passagem pela terra.

Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Eles insistem sobre as diferenças de situação que resultam para ela, de sua maior ou menor pureza. Isso que eles diziam por intuição, o Espiritismo o prova, pelos numerosos exemplos que nos põe diante dos olhos.

IX — Se a morte fosse a dissolução total do homem, isso seria de grande vantagem para os maus, que, após a morte estariam livres, ao mesmo tempo, de seus corpos, de suas almas e de seus vícios. Aquele que adornou sua alma, não com enfeites estranhos, mas com os que lhe são próprios, somente poderá esperar com tranquilidade a hora de sua partida para o outro mundo.
Em outros termos, quer dizer que o materialismo, que proclama-o nada após a morte, seria a negação de toda responsabilidade moral ulterior, e por conseguinte um estímulo ao mal; que o malvado tem tudo a ganhar com o nada; que o homem que se livrou dos seus vícios e se enriqueceu de virtudes é o único que pode esperar tranquilamente o despertar na outra vida. O Espiritismo nos mostra, pelos exemplos que diariamente nos põe ante os olhos, quanto é penosa para o malvado a passagem de uma para a outra vida, a entrada na vida futura.

X — O corpo conserva os vestígios bem marcados dos cuidados que se teve com ele ou dos acidentes que sofreu. Acontece o mesmo com a alma. Quando ela se despoja do corpo, conserva os traços evidentes de seu caráter, de seus sentimentos, e as marcas que cada um dos seus atos lhe deixou. Assim, a maior desgraça que pode acontecer a um homem, é a de ir para o outro mundo com uma alma carregada de culpas. Tu vês, Calicles, que nem tu, nem Pólus, nem Górgias, poderíeis provar que se deve seguir outra vida que nos seja mais útil, quando formos para lá. De tantas opiniões diversas, a única que permanece inabalável é a de que mais vale sofrer que cometer uma injustiça, e que antes de tudo devemos aplicar-nos, não a parecer, mas a ser um homem de bem. (Conversações de Sócrates com os discípulos na prisão.)
Aqui se encontra outro ponto capital, hoje confirmado pela experiência, segundo o qual a alma não purificada conserva as idéias, as tendências, o caráter e as paixões que tinha na terra. Esta máxima: Mais vale sofrer do que cometer uma injustiça, não é inteiramente cristã? Ê o mesmo pensamento que Jesus exprime por esta figura: "Se alguém te bater numa face, oferece-lhe a outra." (Cap. XII, Mateus, V: 38-42 e n°s 7 e 8.)

XI — De duas, uma: ou a morte é a destruição absoluta, ou é a passagem da alma para outro lugar. Se tudo deve extinguir-se, a morte é como uma dessas raras noites que passamos sem sonhar e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Mas se a morte é apenas uma mudança, a passagem para um lugar em que os mortos devem reunir-se, que felicidade a de ali reencontrar os nossos conhecidos! Meu maior prazer seria o de examinar de perto os habitantes dessa morada, e dentre eles distinguir, como aqui, os que são sábios dos que crêem sê-lo e não o São. Mas já é tempo de partirmos, eu para morrer e vós para viver. (Sócrates a seus julgadores.)
Segundo Sócrates, os homens que viveram na terra encontram-se depois da morte e se reconhecem. O Espiritismo no-los mostra continuando suas relações, de tal maneira que a morte não é uma interrupção, nem uma cessação da vida, sem solução de continuidade, mas uma transformação.

Sócrates e Platão, se tivessem conhecido os ensinamentos que o Cristo daria quinhentos anos mais tarde, e os que o Espiritismo hoje nos dá, não teriam falado de outra maneira. Nisso, nada há que nos deva surpreender, se considerarmos que as grandes verdades são eternas, e que os Espíritos adiantados devem tê-las conhecido antes de vir para a terra, para onde as trouxeram. Se considerarmos ainda que Sócrates, Platão, e os grandes filósofos do seu tempo, podiam estar, mais tarde, entre aqueles que secundaram o Cristo na sua divina missão, sendo escolhidos precisamente porque estavam mais aptos do que outros a compreenderem os seus sublimes ensinos. E que eles podem, por fim, participar hoje da grande plêiade de Espíritos encarregados de vir ensinar aos homens as mesmas verdades.

XII — Não se deve nunca retribuir a injustiça com a injustiça, nem fazer mal a ninguém, qualquer que seja o mal que nos tenham feito. Poucas pessoas, entretanto, admitem esse princípio, e as que não concordam com ele só podem desprezar-se umas às outras. Não é este o princípio da caridade, que nos ensina a não retribuir o mal com o mal e a perdoar aos inimigos?

XIII — É pelos frutos que se conhece a árvore. É necessário qualificar cada ação, segundo o que ela produz: chamá-la má, quando a sua consequência é má, e boa, quando produz o bem.
Esta máxima: "E pelos frutos que se conhece a árvore", encontra-se textualmente repetida, muitas vezes, no Evangelho.

XIV — Á riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza, não ama nem a ele nem ao que possui, mas a uma coisa que é ainda mais estranha do que aquilo que ele possui.

XV — As mais belas preces e os mais belos sacrifícios agradam menos à Divindade, do que uma alma virtuosa que se esforça por assemelhar-se a ela. Seria grave que os deuses se interessassem mais pelas nossas oferendas do que pelas nossas almas. Dessa maneira, os maiores culpados poderiam conquistar os seus favores. Mas não, pois só são verdadeiramente sábios e justos os que, por
suas palavras e seus atos, resgatam o que devem aos deuses e aos homens.

XVI — Chamo de homem vicioso ao amante vulgar, que ama mais ao corpo que à alma. O amor está por toda a natureza, e incita-nos a exercer a nossa inteligência: encontramo-lo até mesmo no movimento dos astros. É o amor que adorna a natureza com suas ricas alfombras; ele se enfeita e fixa a sua morada onde encontra flores e perfumes. É ainda o amor que traz a paz aos homens, a calmaria ao mar, o silencio aos ventos e o sossego à dor.
O amor, que deve unir os homens por um sentimento de fraternidade, é uma consequência dessa teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da natureza. Sócrates, tendo dito que "o amor não é um deus nem um mortal, mas um grande demônio", ou seja, um grande Espírito que preside ao amor universal, esta afirmação lhe foi, sobretudo, imputada como crime.

XVII — A virtude não pode ser ensinada; ela vem por um dom de Deus aos que a possuem. É quase a Doutrina cristã sobre a graça. Mas se a virtude é um dom de Deus, é um favor, pode perguntar-se por que ela não é concedida a todos. De outro lado, se ela é um dom, não há mérito da parte daquele que a possui. O Espiritismo é mais explícito. Ele ensina que aquele que a possui, a adquiriu pelos seus esforços nas vidas sucessivas, ao se livrar pouco a pouco das suas imperfeições. A graça é a força que Deus concede a todo homem de boa vontade, para se livrar do mal e fazer o bem.

XVIII — Há uma disposição natural, em cada um de nós, para nos apercebermos bem menos dos nossos defeitos, do que dos defeitos alheios.
O Evangelho diz: "Vês a aresta no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu?" (Cap. X, Mateus, VII: 3-5 n<?s 9 e 10.)

XIX — Se os médicos fracassam na maior parte das doenças, é porque tratam do corpo sem a alma, e porque, se o todo não se encontra em bom estado, é impossível que a parte esteja bem. O Espiritismo oferece a chave das relações entre a alma e o corpo, e prova que existe incessante reação de um sobre o outro. Ele abre, assim, novo caminho à ciência: mostrando-lhe a verdadeira causa de certas afecções, dá-lhe os meios de combatê-las. Quando ela levar em conta a ação do elemento espiritual na economia orgânica, fracassará menos.

XX — Todos os homens, desde a infância, fazem mais mal do que bem.
Estas palavras de Sócrates tocam a grave questão da predominância do mal sobre a terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e do destino da terra, onde se encontra apenas uma pequena fração da Humanidade. Só o Espiritismo lhe dá solução, que é desenvolvida logo adiante, nos capítulos II, III e V.

XXI — A sabedoria está em não pensares que sabes aquilo que não sabes.
Isto vai endereçado àqueles que criticam as coisas de que, frequentemente, nada sabem. Platão completa este pensamento de Sócrates, ao dizer: "Tentemos primeiro torná-los, se possível, mais honestos nas palavras; se não o conseguirmos, não nos ocupemos mais deles e não busquemos mais do que a verdade. Tratemos de nos instruir, mas não nos aborreçamos." É assim que devem agir os espíritas, com relação aos seus contraditores de boa ou de má fé. Se Platão revivesse hoje, encontraria as coisas mais ou menos como no seu tempo, e poderia usar a mesma linguagem. Sócrates também encontraria quem zombasse de sua crença nos Espíritos e o tratasse de louco, assim como ao seu discípulo Platão.
Por haver professado esses princípios, Sócrates foi primeiro ridicularizado, depois acusado de impiedade e condenado a beber cicuta. Tanto é certo que as grandes verdades novas, levantando contra elas os interesses e os preconceitos que ferem, não podem ser estabelecidas sem lutas e sem mártires.

25 - ENCICLOPÉDIA BARSA - VOL. 13 - PAG. 22

SOCRATES (470-399 A.C.): Filósofo grego, nascido e morto em Atenas. Era filho de Sofronisco, amigo de Aristides, e Fenarete, uma parteira. A tradição que afirma ter sido Sócrates, escultor apareceu no séc. III, provavelmente devido a uma falsa interpretação de Platão. O escritor ateniense lon de Quios menciona-o como discípulo de Arquelau, sucessor de Anaxágoras. Xenofonte, em seu livro Memorabilia ("Fatos Memoráveis", IV, 7), concorda com Platão quanto ao conhecimento do filósofo sobre Geometria e Astronomia. Isso também se infere da peça burlesca de Aristófanes, Nuvens, cujo tema principal é Sócrates. Tais fatos são suficientes para provar sua extraordinária popularidade.

Casou-se, já tardiamente, com Xantipa, mulher de gênio irascível, de quem teve três filhos. Possuía resistência física fora do comum. Quase nunca se afastou de Atenas, fazendo-o apenas quando soldado do exército ateniense. Os autores antigos são unânimes em reconhecer seu caráter reto e incorruptível. Era, diz Xenofonte, o mais equilibrado e modesto dos homens. Sagaz e agudo, atribuía essas virtudes a um daimon ("oráculo interior ou demônio"), que o levava a desprezar todos os outros oráculos da Grécia. Quando, certa vez, tomou parte da Assembleia dos 500, opôs-se com tenacidade a toda e qualquer forma de injustiça.

Conta-se que o oráculo de Delfos, com excepcional bom-senso, declarou-o o mais sábio dos gregos, ao que Sócrates, com sua proverbial reserva, respondeu: "Só sei que nada sei." Para ele não existia Filosofia, enquanto o espírito não se voltasse reflexivamente sobre si mesmo: Gnóthi se aiitón ("Conhece-te a ti mesmo"). Antes dele, as reflexões dos primeiros filósofos, como Tales, Heráclito, Parmênides, Pitágoras, Demócrito e outros, se voltaram sobre os problemas do ser, do movimento e da substância primordial do mundo, a physis, procurando dar-lhes uma explicação racional.

Isso é muito bom, dizia Sócrates, mas há matéria infinitamente mais digna da meditação filosófica — o homem, a quem sempre procurava entender, como, de resto, a tudo que fosse humano. Se alguém se referia à justiça, indagava irônico: Tó ti? "Que é isso?" É verdade que, muitas vezes, suas respostas não foram satisfatórias, mas seu método e suas intenções constituíram o início da reação helênica contra o iluminismo relativista dos sofistas, que haviam levado à falência o pensamento filosófico.

Naquela época dois problemas interessavam particularmente aos jovens atenienses: o moral e o político. Os sofistas, destruindo a primitiva fé nos deuses do Olimpo, solaparam as bases da moralidade, que se apoiava, sobretudo, no respeito que os gregos tinham por suas inúmeras divindades. Um individualismo desintegrador enfraquecia, então, a democracia ateniense, o que tornou a cidade fácil presa dos espartanos, severa e autocraticamente educados. Como achar um fundamento para a moral individual e qual a melhor forma de governo ? — perguntavam a Sócrates.

Uma resposta insólita a essas duas perguntas determinou sua condenação à morte. Os conservadores o honrariam, se tentasse restaurar a velha fé politeísta, levando a juventude emancipada que o seguia aos templos e bosques sagrados. Se fosse possível, indagava Sócrates, edificar um sistema moral absolutamente alheio às doutrinas religiosas, servindo assim tanto aos ateus como aos crentes, poderiam os deuses nascer e morrer sem prejuízo da conduta humana ? Para tanto, julgou apenas necessário alicerçar a conduta moral na plena consciência responsável. Se se pudesse ensinar aos homens a ver clara e inteligentemente os resultados e a natureza última de seus atos, talvez isso bastasse para fazê-los trilhar o reto caminho.

Esse método indutivo, que permitia a Sócrates praticar na mente de seus discípulos um verdadeiro parto de idéias, recebeu o nome de maiêutica. Quanto ao problema político, ele considerava uma baixa superstição acreditar-se que a melhor sabedoria dependesse da maior quantidade de pessoas. Em virtude dessas ideias, o filósofo propôs a aristocracia como a melhor forma de governo. Sua carreira, porém, foi bruscamente interrompida pela sentença que o condenou à morte. Atenas já não mais suportava a moral e a ironia socráticas, como também não podia tolerar sua crescente influência sobre a juventude grega.

Nunca escondera o filósofo sua simpatia pelo monoteísmo; politicamente, entretanto, jamais defendera idéias ortodoxas. Anytus, seu principal acusador, assessorado por Meletus, acusou-o de ridicularizar os deuses do Estado e de corromper a juventude. Sócrates defendeu-se apenas por obrigação. Usou, como sempre, de um tom irônico e desdenhoso ao enfrentar seus juizes, indispondo-os. Contados os votos, havia 280 contra ele e 220 a favor. Em obediência à lei ateniense, foi consultado sobre que pena mereceria e proporia para si.

No mesmo tom, respondeu que, tendo durante toda a vida prestado serviço a seus concidadãos, achava que a única medida a ser tomada contra ele seria a de sustentá-lo, por conta do Estado, no Pritaneu. Ao ser instado posteriormente pelos amigos, concordou em propor uma multa de 30 minas. Conhecida a sentença, foi, como já previra, condenado à morte. Não se mostrou comovido, embora falasse longamente aos juizes, para dizer-lhes do bem que encerrava a morte.

A sentença só foi executada bastante tempo depois. Durante esse tempo, Sócrates recusou vários planos de fuga, preparados por Críton e outros amigos. Não lhe parecia correto infringir a lei. Enquanto preso, o tema predileto das discussões do filósofo era o da imortalidade da alma. Suas últimas palavras foram para recomendar a Críton que sacrificasse um galo a Esculápio. Queria oferecer ao deus, a quem se atribuía a cura da fadiga e dos males da vida, a oferenda costumeira.

26 - OS GRANDES PENSADORES - VIDA E OBRA - toda a obra

A "questão socrática"
Outros depoimentos antigos importantes sobre Sócrates são o de Aristóteles (384-322 a.C.) — discípulo de Platão — e os provenientes de biógrafos da fase helenística, como Diógenes Laércio (século III d.C). Todavia, a interpretação aristotélica de Sócrates — que o apresenta como iniciador do trabalho de definição de conceitos (relativos ao campo moral) — é vista com reservas pelos historiadores, pois Aristóteles sempre "aristoteliza" o pensamento de seus antecessores, tornando-os momentos preparatórios de suas próprias concepções filosóficas. Por outro lado, as biografias que sobre os pensadores mais antigos da Grécia foram produzidas no período helenístico não apresentam grande exigência crítica. Numa fase marcada pela sombra da perda de liberdade política, o importante para os gregos era descrever a vida daqueles que haviam vivido nos momentos da perdida grandeza política, sem se importar tanto com o rigor das informações e misturando dados históricos com relatos fantasiosos.

As fontes mais seguras para a reconstituição da vida e do pensamento de Sócrates continuam sendo, assim, os depoimentos de seus contemporâneos. Do confronto entre os testemunhos deixados por Platão, Xenofonte e Aristófanes é que sobretudo os historiadores têm procurado recompor a verdadeira fisionomia do Sócrates-homem e do Sócrates-filósofo. Se Aristófanes teria focalizado Sócrates na fase anterior a seu magistério filosófico e se, além disso, misturou-lhe os traços com os de cosmólogos jônicos e os dos sofistas, então de Xenofonte e de Platão é que devem ser recolhidas as principais informações referentes ao Sócrates que marcou tão profundamente não apenas a cultura grega como também toda a herança ocidental. Xenofonte, porém, segundo a maioria dos historiadores, espírito bastante simplório, não teria tido condições para apreender toda a dimensão dos ensinamentos socráticos. Essa seria a razão de, frequentemente, trazer as idéias éticas de Sócrates para o nível de simples lugares-comuns, empobrecendo-as e deturpando-as.

O contrário exatamente é o que se pode dizer de Platão: ninguém mais bem-dotado para acompanhar o mestre em todas as suas sutilezas e em todos os seus vôos, por mais altos que se alçassem. Aqui o perigo é oposto: Platão pode ter atribuído a Sócrates mais do que ele disse ou quis dizer. E, na medida em que o torna personagem-chave de quase os Diálogos que escreveu, não apenas reportou situações e debates vividos por Sócrates, como — considerando-se continuador da linha de pensamento inaugurada pelo mestre — utilizou-o, a partir de certo momento da evolução de sua própria filosofia, como porta-voz de suas doutrinas. A resolução da "questão socrática" transforma-se assim, em grande parte, na questão da delimitação de fronteiras entre o pensamento de Sócrates e o de Platão, dentro dos próprios Diálogos platônicos.

Confrontando-se o socratismo de Platão com o dos chamados "socráticos menores" ( megáricos, cínicos, cirenaicos), pode-se, até certo ponto, tentar uma aproximação do Sócrates histórico. Este, de qualquer forma, desde a Antiguidade, perdeu o caráter estrito de indivíduo concreto, condenado à morte em 399 a.C., para se transformar em ideal humano ou motivo de escândalo — um elemento definitivamente integrante da consciência ética do Ocidente. Na medida mesma em que só se tem de Sócrates reflexo produzidos na consciência e na obra de discípulos ou à que ele teria escolhido a comunicação direta e viva se difícil reconstruir com fidelidade sua vida e seu pensamento. Diante das incertezas inevitáveis, alguns historiadores modernos chegaram a levantar a hipótese da inexistência do Sócrates histórico — pelo menos com as características que foram apontadas pelos relatos dos antigos. Sócrates, chegou-se a afirmar, seria uma criação literária, a serviço do nascionalismo ateniense.

Se essa tese não prevalece entre os historiadores, por outro lado é inegável que a recuperação de Sócrates como "fato" histórico defronta-se com a dificuldade da escassez de dados indisputáveis: a objetividade histórica de Sócrates se dilui na teia de depoimentos diversos e às vezes discrepantes. Porém não foi justamente isso o que - segundo A Apologia platônica - ele quis ser: alguém que apontava não para a ciência das coisas e sim para a consciência do próprio homem? A ciência sobre Sócrates - a resolução da "questão socrática", a reconstituição do Sócrates histórico - não poderiaassim ser socraticamente reformulada? A escassez de dados objetivos indiscutíveis a seu respeito não o transforma, fundamentalmente, num apelo à consciência do homem que dele se aproxima - como contemporâneo ou como estudioso, em qualquer época, de seu pensamento. Ele, reiteradamente teria afirmado não possuir ciência alguma, não teria também delcaro ter aceito a missão de ajudar os homens a se voltarem para o conhecimento de si mesmo, para o desbravamento da própria subjetividade tentando a conquista da própria alma? Pois essa consciência e essa subjetividade é que estão desde logo comprometidas com Sócrates, quando se pretende recuperar sua fisionomia autêntica. Tentar decifrá-lo é já decifrar-se um pouco, buscar conhecê-lo é inevitavelmente uma ocasião para reagir ao desafio de seu enigma. Sócrates remete seu decifrador à própria consciência, oferecendo-lhe uma ocasião para se conhecer a si mesmo.

O homem e o oráculo

Nascido em Atenas em 470 ou 469 a.C., na época em que findava a guerra entre gregos e os persas (guerras médicas) e quando a vitória da Grécia marcaria o início da fase áurea da democracia ateniense, Sócrates era filho de um escultor, Sofronisco, e de uma parteira, Fenareta. Teria seguido, durante algum tempo, a profissão paterna e é provável que tivesse recebido a educação dos jovens atenienses de seu tempo, aprendendo música, ginástica e gramática. Além disso beneficiou-se da própria atmosfera cultural da época, das mais brilhantes da cultura grega. Era o famoso "século de Péricles", idade de ouro da civilização ateniense. Através de sua frota, Atenas domina os mares e chega a criar uma verdadeira talassocracia. Graças à proteção de Péricles, artistas como os escultores Fídias e Ictino embelezam a cidade com suas obras magistrais, enquanto pensadores de outras regiões do mundo helênico, como Anaxágoras de Clazômena e Protágoras de Abdera, trazem para Atenas os frutos da investigação filosófica e científica que, desde o século VI a.C, vinha se desenvolvendo nas colônias gregas da Ásia Menor e nas cidades da magna Grécia (sul da Itália e Sicília).

É o momento também dos grandes autores trágicos: Esquilo morreu quando Sócrates tinha cerca de catorze anos, Sófocles e Eurípedes eram aproximadamente mais velhos dez anos que o filho de Fenareta. Centro do mundo grego, "Hélade da Hélade", Atenas é, no tempo de Sócrates, um ponto de convergência cultural e um laboratório de experiências políticas, onde se firmara, pela primeira vez na história dos povos, a tentativa de um governo democrático, exercido diretamente por todos os que usufruíam dos direitos de cidadania. Nessa democracia, a função pública dos oradores torna-se fundamental e, conseqüentemente, a palavra torna-se não apenas um instrumento de ascensão política, como também um problema a preocupar retóricos e pensadores. Preparar o indivíduo para a vida pública, conferir-lhe capacitação ou virtude (aretê) política, representa, basicamente, adestrá-lo na arte da persuasão através da palavra.

Atendendo a esses requisitos da ação política da Atenas democrática, para aí acorrem os sofistas, professores de eloquência que, bem remunerados, se disputam a ensinar aos jovens atenienses o uso correto e hábil da palavra. Eles próprios, designando-se "sábios" (sofistas), traziam uma mensagem contrária às pretensões dos tradicionais "amigos da sabedoria" (filósofos). Não se preocupavam com tentar desvendar o segredo dos astros ou da origem do universo, como os cosmologistas jônicos, voltando seu interesse para o plano humano, dos valores morais e políticos. Negando a possibilidade de se desvendar a natureza (physis) das coisas, fundamentam todo o conhecimento na convenção (nomos), a partir das impressões sensíveis. Donde resulta que nenhuma afirmativa poderia pretender validade absoluta, só valendo relativamente às experiências e às circunstâncias em que tem origem. "O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são", afirma Protágoras de Abdera, exprimindo o relativismo da sofística.

Outro grande representante dessa corrente, Górgias de Leontinos (c.487-380 a.C.), justificando o valor da retórica, mostra que as noções propostas pelos filósofos como capazes de resolver os problemas do mundo físico eram turvas e cheias de ambiguidades: seria pelo menos tão difícil falar sobre o ser quanto sobre o não-ser. Lidando apenas com suas sensações, o homem não teria acesso às coisas e jamais teria a garantia de estar transmitindo a outrem, com fidelidade, aquilo que ele percebe. Resta-lhe um plano em comum com os demais: o das palavras, convenções que resumem múltiplas sensações. A linguagem é o que compete ao homem investigar, desenvolver, aprimorar, para atender a seus interesses e necessidades. Desvinculadas da physis, não mais expressão da "alma das coisas", as palavras se dessacralizam. Mas, com isso, os valores humanos que elas exprimem perdem o peso do absoluto e da universalidade: tornam-se convencionais, circunstanciais, relativos.

A moral tradicional e as normas de conduta política pareciam estar ameaçadas pela vaga de racionalização trazida pelos sofistas. Mas, na verdade, não é com eles que tem início a humanização relativizadora dos valores. Eles apenas exprimem o clima cultural do Atenas daquele tempo: a relativização dos valores e a laicização das questões morais aparecem na própria evolução da tragédia grega, de Esquilo a Eurípides, passando por Sófocles. O "homem medida de todas as coisas" era mais do que a expressão do relativismo de Protágoras de Abdera: manifestava uma situação geral do momento histórico vivido pela Grécia, e particularmente por Atenas, como resultado da progressiva valorização da "medida humana", iniciada alguns séculos antes. O próprio regime democrático — fruto daquela valorização — permitia ao cidadão ateniense a experiência diária de que é o homem que faz ou altera as leis, como resultado do confronto e do acordo entre interesses e pontos de vista diferentes.

Embora confundido — como por Aristófanes — com os sofistas, Sócrates desenvolverá, junto aos atenienses, uma atividade sob vários aspectos oposta à dos mestres de eloquência e da arte de persuasão. Essa atividade ele mesmo considera, como relata Platão na Apologia, a sagrada missão que lhe fora confiada pelo deus de Delfos. Até esse momento, ele havia acompanhado, como pretendem alguns biógrafos, os ensinamentos de sofistas como Hípias (século V a.C.) e Pródicos (c.465-399 a.C.). Havia também se encantado provisoriamente — como narra o Fédon de Platão— com a doutrina de Anaxágoras, que afirmava que todas as coisas do universo se tinham organizado devido à ação inicial da Inteligência ou do Espírito (Naus). Teria ainda recebido a influência de duas mulheres, a cortesã Aspásia de Mileto e a sacerdotisa Diotima de Mantínéia (a quem Sócrates, no Banquete de Platão, atribui a concepção de amor que apresenta).

Em 432 a.C. explode o conflito entre Atenas e a outra cidade que com ela disputava a hegemonia do mundo grego: Esparta. Sócrates toma parte na guerra do Peloponeso e destaca-se pela bravura e pelas demonstrações de resistência física. Durante o cerco de Potidéia, salva a vida de Alcibíades (c.450-404 a.C.), que se tornará político e militar famoso e discutido, além de dedicar a Sócrates — como Platão o faz declarar no Banquete— um exaltado afeto. No mesmo diálogo, Alcibíades revela outro traço da personalidade de Sócrates que o tornava invulgar: certa vez, em Potidéia, ele teria permanecido, durante 24 horas, imóvel e absorto em seus pensamentos, diante da estupefação dos soldados.

Mais tarde (424 a.C.), Sócrates teria participado novamente de campanha militar, desta vez em Délio, quando os atenienses foram derrotados pelos tebanos. Teve então a oportunidade de salvar a vida de Xenofonte. Mas também em tempos de paz sua coragem foi demonstrada. Em 406 a.C., enfrentou a ira da multidão que exigia a condenação sumária dos generais tidos como responsáveis pelo desastre de Arginusas — quando a tempestade impediu que fossem recolhidos no mar, como estabelecia a lei, os corpos dos que pereceram no combate. Apesar das ameaças, Sócrates, sorteado para dirigir a assembléia escolhida para julgar os generais, fez prevalecer a lei, impondo que houvesse tantos julgamentos quantos eram os acusados. Noutra ocasião, quando o regime democrático foi provisoriamente interrompido pelo governo dos Trinta Tiranos, Sócrates arrostou a fúria desses oligarcas, ao recusar-se a participar da tentativa de sequestro dos bens de Leon de Salamina, o que considerava injusto. Diante de qualquer forma de governo e de qualquer autoridade constituída, Sócrates prestava primeiro obediência aos ditames de sua própria consciência.

Mas o fato que teria marcado, de forma decisiva, o resto de sua existência foi, segundo ele mesmo afirma na Apologia, a declaração, pelo oráculo de Delfos a seu amigo Querefonte, de que ele era o mais sábio dos homens. Logo ele, sem nenhuma especialização, ele que estava ciente de sua ignorância? Logo ele, numa cidade repleta de artistas, oradores, políticos, artesãos? Sócrates parece ter meditado bastante tempo, buscando o significado das palavras da pitonisa. Afinal conclui que sua sabedoria só poderia ser aquela de saber que nada sabia, essa consciência da ignorância sobre coisas que era sinal e começo da autoconsciência. E viu nas palavras oraculares a indicação de uma missão a cumprir. "Desde então", conta em seu julgamento, "de acordo com a vontade do deus, não deixei de examinar os meus concidadãos e os estrangeiros que considero sábios e, se me parecerem que não o são, vou em auxílio do deus revelando-lhes sua ignorância."

O renascer na própria alma

A atividade filosófica de Sócrates tinha em sua origem — a crer no depoimento da Apologia platônica — uma dimensão religiosa. Se, em nome da indicação contida na afirmativa do oráculo, Sócrates desenvolveu uma insistente investigação sobre o significado de palavras, certamente não visava, como interpretará Aristóteles, à definição de conceitos. Tanto que os Diálogos de Platão, considerados transcrições aproximadas de conversações efetivamente entabuladas por Sócrates (os primeiros Diálogos, justamente designados "socráticos"), terminam sempre sem que se chegue a uma conclusão a respeito do tema debatido. É que, para Sócrates, a meta seria não o assunto em discussão, mas a própria alma do interlocutor, que, por meio do debate, seria levada a tomar consciência de sua real situação, depois que se reconhecesse povoada de conceitos mal formulados e obscuros.

A implacável racionalização contida na dialogação socrática — com a qual, segundo o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), Sócrates teria amortecido a primitiva força criadora do gênio grego — significava, ao que parece, fidelidade e submissão ao oráculo. Em Sócrates a razão seria tão mais forte e exigente quanto não teria apenas em si mesmo o motivo de sua autoconfiança. A sabedoria oracular — que já havia marcado o pensamento e a linguagem de Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.) — parece constituir para Sócrates o absoluto em que se apoia a razão. Ao tentar decifrá-lo, a razão não se contrai, antes se expande, e, porque o absoluto é sua meta e seu ponto de referência, ela pode e deve traçar um itinerário que não conhece limites.

No cumprimento da missão de que se sente encarregado, Sócrates dialoga. Geralmente o interlocutor, tido como autoridade em algum ramo de conhecimento ou de atividade, decepciona-o. Apenas nos artífices encontra alguma consciência daquilo que fazem. Mas esses revelam um conhecimento restrito a suas especializações e embaraçam-se quando levados a opinar sobre outros assuntos, embora de geral interesse para os homens. Isso parece confirmar a Sócrates o sentido da superioridade que lhe fora atribuída pelo oráculo: o reencontro consigo mesmo só pode partir da consciência da própria ignorância. Mas essa ignorância, que é um atributo de Sócrates, não é geralmente assumida pelas outras pessoas, que se julgam na posse de "verdades". Torna-se necessário, portanto, levá-las, de saída, a despojar-se dessas pseudoverdades — única forma de torná-las aptas a caminharem em direção ao conhecimento de si mesmas.

A demolição das falsas idéias que fundamentam a falsa imagem que as pessoas têm delas próprias é o que pretende a ironia: momento do diálogo em que Sócrates, reafirmando nada saber, força o interlocutor a expor suas opiniões, para, com habilidade, emaranhá-lo na teia obscura de suas próprias afirmativas e acabar reconhecendo a ignorância a respeito do que antes julgava ter certeza. A ironia socrática tem, assim, a função de propiciar uma catarse: um purificação da alma por via da expulsão das idéias turvas, das ilusões e dos equívocos que distanciavam a alma de si mesma. Orientado por seu "demônio" (daimorí), espécie de voz interior que às vezes lhe freava as iniciativas e impedia-o de dialogar com determinadas pessoas, Sócrates escolhia aqueles com os quais a conversa poderia assumir caráter de reconstrução, após o exorcismo propiciado pela ironia. Nessa outra fase do método socrático, o interlocutor — transformado em discípulo — é levado, progressivamente, pela habilidade das questões propostas, a tentar elaborar ele mesmo suas próprias idéias.

Não mais a repetição automática de fórmulas consagradas ou chavões herdados, embora ocos de sentido. Agora, de início timidamente, o interlocutor-discípulo é conduzido ao risco de tentar ser ele mesmo, de ele mesmo conceber ideias. E de ser ele mesmo sua própria alma. Sócrates — dando um exemplo que a pedagogia moderna frequentemente tenta reviver — reserva-se nessa fase, chamada maiêutica ou parturição das idéias, um papel semelhante ao de sua mãe, Fenareta. Ela ajudava as mulheres a darem à luz seus filhos; Sócrates, que se dizia ele mesmo estéril — pois só sabia que nada sabia —, procurava auxiliar as pessoas noutra forma de concepção, a das ideias próprias: forma de se ir ao encontro de si mesmo — como prescrevia a inscrição do templo de Delfos — e de fazer de si mesmo seu próprio ponto de partida. Em algumas afirmativas que lhe são atribuídas, Sócrates compara-se aos médicos: como estes, ele submetia, quando necessário, o interlocutor-paciente à purgação da ironia, condição preliminar para a recuperação da saúde da alma, que seria o conhecimento de si mesma. E, na verdade, o sentido da filosofia — que ele identificava com sua sagrada missão — era o de conduzir o indivíduo a pensar como quem se cura: pensando palavras como quem pensa feridas.

Na escolha de seus interlocutores, Sócrates não levava em conta fatores de natureza social e econômica. Seu daimon guiava-o no processo seletivo, fazendo-o perceber, com um agudo senso de oportunidade pedagógica, quais as pessoas que ainda não dispunham de condições psicológicas para ser submetidas ao "tratamento" da ironia e da maiêutica. Imbuído de espírito missionário, Sócrates, ao contrário dos sofistas, não cobrava por seu trabalho: considerava-se a serviço do deus. Assim, enquanto a atividade pedagógica dos sofistas tinha como consequência política facilitar a ascensão na vida pública daqueles que dispunham de recursos suficientes para pagar suas caras lições — e que, portanto, já detinham em suas mãos o poder econômico —, a de Sócrates, exercida em nome do espírito religioso, abria-se a qualquer um que manifestasse situação psicológica favorável à realização do processo de autoconheci-mento. Essa forma de seleção dos interlocutores-educandos tornava democratizadora a pedagogia socrática.

Mas, para aquela democracia, que recusava o direito de cidadania às mulheres, aos estrangeiros e aos escravos — portanto, à maioria da população de Atenas —, o Sócrates pedagogo e médico de almas constituía uma denúncia de suas limitações e, conseqüentemente, um perigo. No diálogo Ménon, Platão descreve Sócrates realizando a maiêutica com um escravo e levando-o a conceber noções sobre intrincada questão matemática (relativa aos "irracionais"). Mesmo que não se trate, no caso, do relato de um fato efetivamente ocorrido, ou se teria sido outro o conteúdo da conversação entre Sócrates e o escravo, não importa: a situação descrita por Platão é certamente representativa do menosprezo de Sócrates pelos preconceitos sociais da própria democracia ateniense.

Demonstrar publicamente que um escravo era capaz, se bem conduzido pelo processo educativo, de ter acesso às mais importantes e difíceis questões científicas era sem dúvida provar que ele era pelo menos igual, em sua alma, a qualquer cidadão. Era invalidar as distâncias sociais e políticas entre os indivíduos e mostrar que, de direito, todos eram intrinsecamente semelhantes. Porque sua missão era levar todos os homens a buscar o verdadeiro bem — pelo cuidado da própria alma —, Sócrates contrariava os interesses daquela minoria que detinha o poder na democracia ateniense. Assim, quando em 399 a.C. a democracia condena-o à morte, ela não apenas o pune: ela se defende.

O que É ser bom?

Para os primeiros filósofos gregos, o homem seria explicado pelo mesmo substrato ou pela mesma natureza (physis) que justificaria a existência de todos os seres. Se tudo era constituído ou proviria de água, ou de fogo, ou de átomos, também o homem teria na água, no fogo ou nos átomos as "raízes" de sua realidade física, psíquica e moral. Como transparece claramente no pitagorismo, a ética se inseria na cosmologia. Justamente a grande revolução filosófica instaurada pelos sofistas consistiu na desvinculação do homem em relação à physis universal. Certamente sob a influência das escolas médicas — que verificavam a peculiaridade de determinadas reações orgânicas do homem —, os sofistas passam a atribuir autonomia à natureza humana. Mas o humanismo que formulam apresenta-se vinculado ao ceticismo, à indiferença religiosa e ao relativismo epistemológico. Refletindo outros fundamentos, o humanismo socrático — centralizado no preceito "conhece-te a ti mesmo" — caminha num sentido aparentemente semelhante, mas, na verdade, profundamente diverso.

A tradição ética na cultura grega parte de Homero e Hesíodo. As epopéias homéricas (séculos X-VIII a.C.) formulam uma ética aristocrática que fazia da virtude (areie) um atributo inerente à nobreza e manifestado por meio da conduta cortesã e do heroísmo guerreiro. Justamente porque identificada a atributos da nobreza, a areie homérica era usada para designar não apenas a excelência humana, como também a superioridade de seres não-humanos — como a força dos deuses e a rapidez dos cavalos nobres. Originariamente, portanto, a palavra areíê não tem o sentido preciso de "virtude". Ainda não atenuada por seu uso posterior puramente ético, estava de início ligada às noções de função, de realização e de capacitação, denotando a excelência de tudo o que é útil para algum ato ou fim. Com Hesíodo (século VIII a.C.) é que a areie passa a assumir significado mais estritamente moral: deixa de ser atributo natural de bem-nascidos para se transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de qualquer homem.

Por isso mesmo é que com Hesíodo já se propõe a questão do ensino da areie, que será retomada pelos sofistas e por Sócrates. Antes dos sofistas, o tema da areie e de seu ensino, desde Hesíodo, estivera inserido na temática de poetas, como Teognis, Simônides e Píndaro, que desenvolveram a chamada poesia parenética, de exortação moral. Os sofistas é que transpõem para a prosa uma questão de que tradicionalmente se ocupara a poesia — e isso é sinal de que neles essa problemática recebia sua definitiva racionalização. Sócrates reage ao relativismo sofístico. Ao que tudo indica, alicerçado em pressupostos religiosos órfico-pitagóricos, não concebe o conhecimento humano como apenas a sucessão de impressões sensíveis — fugazes e intransferíveis — ou a criacão, a partir delas, dos sinais convencionais que constituiriam a linguagem. Se as palavras são geralmente um terreno instável e uma expressão de opinião relativa e insegura, é porque, segundo ele, não estariam acompanhadas da consciência de seu significado.

Mas esse significado, por sua vez, deveria emanar da própria alma do indivíduo, que constitui uma unidade subjacente às mutáveis impressões dos sentidos. Na verdade, Sócrates criou uma nova concepção de alma (psique), que passou a dominar a tradição ocidental. Antes, como em Homero, a psique era o "duplo" que podia se desprender provisoriamente durante o sono ou definitivamente, com a morte, mas que nada tinha a ver com a vida mental ou as "faculdades" da pessoa. Nos órficos, era o princípio superior, que se reencarnava sucessivamente, atravessando o processo purificador que a reconduziria às estrelas e a reintegraria na harmonia universal; mas, enquanto ligada ao corpo, só se manifestava em situações excepcionais — sonhos, visões, transes. Nos pensadores jônicos do século VI a.C., si psique era apenas uma parte do todo: porção do pneuma (ar) infinito que habitava o corpo, vivificando-o provisoriamente até escapar, como último alento, na hora da morte — como em Anaxímenes de Mileto; ou porção de fogo a aquecer e animar o corpo até que afinal retornasse à unidade do Fogo-Razão, o Logos universal "eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida" — como em Heráclito de Éfeso.

É a partir de Sócrates — ou pelo menos é na literatura referente a ele e que se seguiu à sua morte — que surge a concepção de alma como sede da consciência normal e do caráter, a alma que no cotidiano de cada um é aquela realidade interior que se manifesta mediante palavras e ações, podendo ter conhecimento ou ignorância, bondade ou maldade. E que, por isso, deveria ser o objeto principal da preocupação e dos cuidados do homem. Essa concepção de alma torna compreensível a tese socrática de que virtude é conhecimento e que, por conseguinte, ninguém erra deliberadamente. Só que aquele conhecimento nada teria a ver com as opiniões flutuantes e geralmente infundadas. O conhecimento que Sócrates identifica à areie é a episteme (ciência), não a doxa (opinião). E essa episteme — que não pode ser ensinada — não constitui uma ciência sobre coisas ou informações voltadas para a obtenção de prestígio ou de riquezas: é o conhecimento de si mesmo, a autoconsciência despertada e mantida em permanente vigília. Bom é, assim, o homem autoconstruído a partir de seu própio centro e que age de acordo com as exigências de sua alma-consciência: seu oráculo interior finalmente decifrado.

CRONOLOGIA:


480 a.C — A perda das Termópilas abre a Grécia central à invasão. A frota grega esmaga a persa em Salamina. Nascimento de Eurípides.

479 a.C. — Vitória dos gregos sobre os persas em Plateia, em terra, e em Micala, no mar. Término da segunda guerra médica e início da
hegemonia de Atenas.

477 a.C. — Formação da confederação de Delos, que se transformará, pouco a pouco, em império anteniense.

470 ou 469 a.C. — Nascimento de Sócrates.

461 a.C.(?) — Anaxágoras de Clazômena fixa-se em Atenas.

460 a.C. — Nascimento de Tucídides.

456 a.C. — Morte de Esquilo.

449-429 a.C. — Governo de Péricles.

432-429 a.C. — Sócrates participa da companha e do cerco de Potidéia.

431 a.C. — Começo da guerra do Peloponeso entre Esparta e Atenas.

428 a.C. — Nasce Platão.

424 a.C. — Sócrates participa da batalha de Délio.

423 a.C. — São apresentados simultaneamente, em concurso, As Nuvens

421 a.C. — Paz de Nícias: fim do primeiro período da guerra.

415-413 a.C. — A guerra recomeça entre Atenas e Esparta.

406 a.C. — Questão dos Arginusas e pritania de Sócrates.

404 a.C. — Assédio e capitulação de Atenas. Assassínio de Alcibíades.

404-403 a.C. — Governo dos Trinta.

403 a.C. — Restauração da democracia.

399 a.C. — Processo e morte de Sócrates.